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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Dossier SORBONNE N°8 (Final): Tupi, vice campeão!

Entre setembro de 2009 e junho de 2010, tenho seguido com uma considerável assiduidade os eventos da Sorbonne (com exceção de janeiro que fiquei em Itapema). Não estou com muita disposição para citar todos os eventos, mas é possível ter uma ideia da quantidade através dos sites dos dois grupos de música da École Doctorale 5, o “Observatoire Musical Français” (OMF: http://www.omf.paris-sorbonne.fr/) e o “Patrimoines et Langages Musicaux” (PLM: http://www.plm.paris-sorbonne.fr/) e também do site da própria universidade Paris-Sorbonne: http://www.paris-sorbonne.fr/fr/.
Até este ano não existiam cursos obrigatórios para os doutorandos (a partir do ano que vem existirão, pois um musicólogo foi eleito presidente da Escola Doutoral, e assim ele quer e assim será), e por isso segui vários cursos e seminários do mestrado. O que foi de grande utilidade para compreender o funcionamento das engrenagens e também ver de tudo.
Semana passada assisti as três tardes inteiras da reunião do OMF, desde a primeira onde um dos temas discutidos foi a situação das publicações em francês em relação às outras línguas, sobretudo ao inglês, até o finalzinho da terceira tarde, no anúncio do Prêmio Canal Académia, concedido às melhores exposições nas Doctorales de Musique et Musicologie, aquele grande seminário nacional que também participei no fim de março. Discutiu-se, entre muitas outras coisas, a hegemonia massiva da língua inglesa (e não somente nas ciências duras), falou-se de uma aparente falta de interesse de estrangeiros em ler ou falar francês, algo que foi contestado e com razão (pois a maioria dos intelectuais do mundo lê em francês), também discutiram a criação de revistas bilíngues para enfim atingirem um público maior (como uma revista de Jazz austríaca que é publicada em alemão e inglês), para resumir, a preocupação daquele momento da reunião era a internacionalização do francês acadêmico. Discussão que acompanhei curioso, porque ficava fazendo relação com minha experiência na academia tupiniquim, onde a relação com as “línguas internacionais” passa por outras picadas.
No final do último dia desta reunião do Observatoire Musical Français, a Profa. Pistone fez um breve discurso sobre o tal prêmio das Doctorales, que consistia na seleção de uma das exposição para ser transmitida pela rádio Canal Académia. Confesso que, apesar de não serem grandes, também fiquei com expectativas de uma surpresa, visto os muitos elogios dos professores e organizadores daquele congresso à minha exposição! A professora estava visivelmente nervosa, pois ainda não havia aberto o envelope com o resultado e ao mesmo tempo explicava que tinha selecionado, para enviar aos juízes da rádio, seis exposições impecáveis e uma outra, tipo café com leite, de um doutorando estrangeiro, que apesar de um forte sotaque, estava perfeitamente adequada à proposta do congresso e tal... E isso tudo olhando pra mim... Dizendo que "falta só um pouquinho mais de francês, quem sabe no ano que vem", meio que se desculpando sem jeito, etc... E eu ainda meio que começando a entender... Finalmente, trêmula e confessando sua ansiedade, porque o pessoal da rádio também tinha comentado que ela teria uma surpresa... A professora, diretora do OMF, abre o envelope pardo e fala num tom entre a alegria e a decepção, meio neutra (claro, tudo isto fruto do meu imaginário idealista!), dizendo que a surpresa era que os seis trabalhos impecáveis haviam sido selecionados para o prêmio e... Então olhou pra mim dizendo de novo que faltou um pouquinho de francês...Hehehe, seis campeões e um vice...
O que me chama a atenção é que a minha exposição foi inteiramente lida, com um texto gramaticalmente correto. Então, o que não agradou aos juízes da rádio foi meu sotaque muito estrangeiro. Depois fiquei pensando sobre isso e relacionei à preocupação com a internacionalização do francês: o quê é mais significativo da potência de um idioma do que um estrangeiro se esforçando e produzindo naquele idioma? Imagino que a cúpula da musicologia da Sorbonne saiba disto, tanto que minha exposição foi mandada junto com as outras seis campeãs. Agora, não sei mais, se faltou um posicionamento mais enfático por parte do OMF quanto às suas indicações ou se a responsabilidade da decisão pesa totalmente sobre os juízes da rádio, que ainda não entenderam nada. “Vô sabê?!?”
No fim das contas, gauleses e tupiniquins, vice-campeões!

Leandro Gaertner
Paris, junho de 2010.

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