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quinta-feira, 29 de abril de 2010

Tempo de Amor


Quando estávamos em Amsterdam sob o “efeito cogu”, ou seja, um efeito que altera a percepção visual após a ingestão de um determinado cogumelo mexicano, teve um momento que não queríamos bater nenhuma foto: “Pra quê?...se a foto não vai captar nada...” O que poderia escrever para capturar em um pequeno texto, um mês com a minha Cambacica visitando este também visitante de Paris? Amparado pelas centenas, milhares, de esculturas clássicas sei que posso sussurrar sem receio uma palavra que dá conta do conjunto de afetos deste mês que se acabou ontem...mês não....hoje deixo essa convenção de lado....deste tempo que acabou ontem. E a palavra que posso sussurrar é amor.
Afinal, gente, não há mais tempo para não nos amarmos, não nos adorarmos. Eu precisava muito deste tempo, pois andava com uns pensamentos depreciativos de nossa espécie, como meu professor (que dá sinais de “se pegar” muito com isso). Eu andava com dificuldades, nos vendo espécie animal demais, por todos os lados, mas um enfoque distorcido, doentio e triste. Mal podia coçar a cabeça ou ouvir uma criancinha gritando sem ter um “pensamento constatação espécie”, “macacos que andam de metrô”. Arrisco uma imaginação: muitos sentiram isso no final do século de Darwin e colegas. É evidente que eu também chegaria aí após tanto idílio laico. Mas, “saí dessa bad!” Ainda continuamos animais, mas que bela espécie a nossa! Que potência! Que fragilidade! Que singularidade! Quanta curiosidade nessa espécie! Enfim andamos eretos, inventamos funções para a roda, somos sociais, seguramos o fogo, sentimos medo, enfeitiçamos nossa casa, carregamos muita memória; ainda estamos digerindo aqueles cogumelos clássicos, gregos, franceses e alemães, aos pouquinhos nos despertando do sonho de Constantino. Sei que continuamos, pertencemos ao tempo. Não tenhamos pressa, afinal, esse é somente o nosso tempo. Vamos nos amar.
E é claro que o amor é melhor compreendido se presenciado, em tudo e em todos de um modo geral ou na Cambacica-Ximi-Ana Paula, em particular. Esse bicho, bicha fêmea que encontro com certa frequência nesses últimos sete anos e meio, incluindo os últimos trinta sóis. Como bem disse uma filósofa amante do desejo e da vida: “Um ser humano emocionado.” Emoção que se esparrama boca afora, entre largos dentes e largo sorriso, língua afiada e boquinha...lábios de bonequinha... Juntos ressignificamos, procuramos ávidos o lugar de onde falamos, sempre novos lugares, mais abertos, claros, brilhantes, belos e amorosos. Com ela é fácil ter amor, é fácil entender e acessar o amor. É fácil chorarmos emocionados perante nossa condição, nossa existência, nosso fim. Com amor é possível viver mil anos!

Camba, queria fazer conversinha contigo daqui a mil anos e ver como anda o tempo...


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Paris, 29 de abril de 2010.

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Imagem: Amor e Psiquê (Antonio Canova 1757-1822)
(Obra em exposição no Museu do Louvre - Paris)