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sábado, 24 de janeiro de 2009

Espirais do Tempo


















Resumo de História da Música

Resumo de História da Música (dos Gregos ao Séc.XIX)
Organização: Leandro Gaertner (legaertner@hotmail.com)

Baseado na obra:

GROUT, Donald J.; PALISCA, Claude V. História da música ocidental. Lisboa: Gradiva, 2007.


1
A situação da música no fim do mundo antigo

A situação da música no fim do mundo antigo
• 312 d.C.: o imperador Constantino fez do cristianismo a religião da família imperial.
• 395 d.C.: divisão do Império do Oriente (Bizâncio) e Império do Ocidente (Roma).
• 476 d.C.: quando o último imperador do Ocidente foi deposto, os alicerces do poder papal estavam já tão firmemente estabelecidos que a Igreja se encontrava em condições de assumir a missão civilizadora e unificadora de Roma.

A herança grega
•Ensinamentos, correções e inspiração nos mais diversos campos de atividades (diferença entre música e outras artes).
•Reconstituição de cerca de quarenta peças ou fragmentos de peças musicais gregas.
•Grécia e Roma: baixos-relevos, mosaicos, frescos, esculturas, literatura.
•Desaparecimento das tradições da prática musical romana no início da Idade Média (início da Igreja Cristã).
•As teorias musicais antigas estiveram na base das teorias medievais.
A música na vida e no pensamento da Grécia Antiga
•A música como origem divina, poderes mágicos... (Ex: mitologia e antigo testamento).
• Culto de Apolo (lira) e de Dioniso (aulo - este instrumento associava-se ao canto de certo tipo de poema – o ditirambo).
•Acompanhamento nas grandes tragédias clássicas – obras de Ésquilo, Sófocles, Eurípides.
• Desde o séc. VI a.C. tanto a lira como o aulo eram tocados como instrumentos independentes, a solo (concursos, festivais instrumentais e vocais, proliferação de músicos profissionais).
•Música monofônica e quase totalmente improvisada, com a sua melodia e o seu ritmo ligado intimamente à melodia e ao ritmo da poesia (com instrumentos acompanhadores).

Música e Filosofia na Grécia
•A música grega chegou à Idade Média, sobretudo através da teoria e não da prática (sem continuidade histórica musical).
• Música – forma adjetivada de musa.
•Pitágoras (c.500 a.C.), Aristides Quintiliano (séc. IV a.C.), Platão (Timeu e República, escrita em c.380 a.C.) - música e aritmética.
• Cláudio Ptolomeu (séc. II d.C.) - intervalos musicais e sistema de corpos celestes.
• Música e Poesia.

A Doutrina do Etos
•A música como uma força capaz de afetar o universo.
•Numa fase posterior, passaram a sublinhar-se os efeitos da música sobre o caráter e a conduta dos seres humanos. Doutrina da imitação de Aristóteles, a música representa as paixões ou estados da alma.
•Platão e Aristóteles: sistema público de educação cujos dois elementos fundamentais eram a ginástica e a música.
•Na doutrina grega do Etos existe uma divisão genérica em duas categorias: 1- música que tinha como efeitos a calma e a elevação espiritual (culto de Apolo, formas poéticas correlativas a ode e a epopéia - lira); 2- música que tinha como efeitos a excitação e o entusiasmo (culto de Dioniso, o ditirambo e o teatro - aulo).

O sistema musical grego
•A teoria musical grega compunha-se tradicionalmente de sete tópicos: notas, intervalos, gêneros, sistemas de escalas, tons, modulação e composição .
•Distinção entre dois tipos de movimento da voz humana: o contínuo e o diastemático.
• O bloco fundamental a partir do qual se construíam as escalas de uma ou duas oitavas era o tetracorde (formado por quatro notas, abarcando um intervalo de quarta – consonância – Pitágoras).
• Havia três gêneros de tetracordes: diatônico (mi,ré,dó,si); cromático (mi,dó#,dó,si); enarmônico (mi,dó,dób,si – quartos de tom ou próximos do quarto de tom).
• Dois tetracordes podiam combinar-se de duas formas diferentes para formarem heptacordes (sistema de sete notas) e sistemas de uma ou duas oitavas.
•Aristóteles já apontava diferenças fundamentais entre os modos musicais.
A música na antiga Roma
•Os domínios gregos tornam-se uma província romana em 146 a.C.
• Ritos religiosos, música militar, no teatro, diversões particulares,educação. Do indivíduo culto romano se esperava que soubesse música, como também falar e escrever em grego.
•Principal herança: melodia ligada às palavras, melodia improvisada, um sistema de formação de escalas com base nos tetracordes, uma terminologia musical.

Os primeiros séculos da igreja cristã
•Influência das sociedades mistas orientais-helenísticas do Mediterrâneo (rejeição de alguns aspectos: grandes espetáculos públicos, festivais, concursos, representações teatrais, música instrumental: ligação com o passado pagão).
•O canto dos hinos é a primeira atividade musical documentada da Igreja Cristã. (Mat., 26,30; Mar., 14,26;).
•Atribue-se ao Papa Gregório (590 – 604) e a seu sucessor, o Papa Vitaliano (657 – 672), a organização de um repertório de cantochão, que mais tarde será difundido por toda Europa por imposição de Carlos Magno (fundador do reino franco e coroado em 800 chefe do Sacro Império Romano).

Canto litúrgico e canto secular na Idade Média
•Cantochão (Canto Gregoriano): versão da Abadia de Solesmes (fim do Séc.XIX - Séc.XX).
•Concílio Vaticano II(1962-1965) – línguas vernáculas.
•Cantochão: instituição histórica, repertório de concerto, música cerimonial ainda em prática.

Liturgia Romana
•Ofícios ou Horas Canônicas (codificados na Regra de São Bento c.520).
-matinas (antes do nascer do Sol) (alguns dos mais antigos cantos da Igreja)
-laudas (ao alvorecer).
-prima (6h).
-terça (9h).
-sexta (12h).
-nonas (15h).
-vésperas (ao pôr do Sol) (desde cedo já admitia canto polifônico).
-completas (geralmente após as vésperas).
Missa
•Serviço mais importante (Ite, missa est)
•Elementos da missa foram entrando na liturgia em momentos e lugares diferentes.
•Liturgia da palavra e da eucaristia.
•Final do Séc.VI: cânone da missa definido.
•Missal de 1570 (Papa Pio V).
•Próprio e Ordinário.
•Arranjos polifônicos a partir do Séc. XV.
•REQUIEM AETERNAM DONA EIS, DOMINE. (Daí-lhes Senhor, o Eterno Repouso). Missa sem o Gloria e sem o Credo, com Dies Irae.

Estrutura da Missa

PRÓPRIO
1-Intróito 4-Graduale 5- Aleluia 7-Ofertório 10-Comunhão

ORDINÁRIO
2-Kyrie 3-Glória 5-Credo 8-Sanctus 9-Agnus Dei 11-Ite Missa Est

Formas de Cantochão
•Tons de Salmodia: duas frases equilibradas (como duas metades de um versículo de salmo) - antífona>salmo (primeira metade)>salmo (segunda metade)>antífona.
•Forma estrófica (hino).
•Forma livre.
Detalhes do Cantochão
•Pauta de 4 linhas (sendo uma designada primeiramente por clave de Dó ou Fá – altura relativa).
•Neumas: -todos com a mesma duração (o ponto duplica).Neumas ligados correspondentes a uma única sílaba são cantados ligados. Traço horizontal prolonga o neuma.

Método de Solesmes: notação usada atualmente baseada na notação do Séc. XIII

Cantochão
•Manuscritos conservados a partis do Séc. IX.
•Similaridade (fonte comum – S.Gregório – organização de livro).
•Lenda da cópia do corpus do cantochão (Pomba-S.Gregório-Escriba).
•Como o cantochão pôde ser fixado antes de existir a notação?
•Monarcas francos (unificação dos reinos poliglotas - Roma, o melhor caminho).
•Notação: Primeiro auxiliar a memória, para depois registrar os intervalos com precisão (após a existência de uma uniformidade da interpretação improvisada; foi tanto conseqüência desta uniformidade como um meio de a perpetuar).

Tipos de Cantochão
•Textos bíblicos ou não bíblicos.
•Bíblicos: Prosa (ofícios, epístola, evangelho); Poético (salmos, cânticos).
•Não bíblicos: Prosa (Te Deum, antífonas); Poético (hinos, sequências).
•Antifonal (coros alternados); Responsorial (solo alterna com coro); Direto (sem alternância).
•Silábico; Melismático; Neumático.
•Principal propósito: pôr o texto em evidência.

Momentos da Missa
•Antífona: cantada por um grupo de cantores, de modo são silábicas ou ligeiramente ornamentadas, movimento por graus conjuntos.
•Responsório: um versículo curto cantado pelo solista e repetido pelo coro antes de uma oração ou de uma breve passagem das escrituras.
•Tracto: cânticos longos e melismáticos.
•Gradual:melodias ornamentadas, um tipo de Responsório abreviado.
•Aleluia: consiste em um refrão sobre a palavra aleluia: foi um marco do desenvolvimento dos princípios puramente musicais, repetição de sessões diferentes, contraposição aos Graduais e aos Tractos (orientalismo-improviso-passado); Aleluias (ocidentalismo-ordenação-moderno).
•Ofertório: semelhante aos Graduais.
•Cantos do Ordinário: Gloria e Credo (mais silábicos); Kyrie, Sanctus e Agnus Dei (mais ornamentados).

Desenvolvimento do Cantochão
•Escolas do norte (mosteiro de S.Galo-Suíça, maior números de saltos, intervalo de terça, novas formas de canto).
•Tropo: uma parte acrescentada a um cântico da missa, geralmente em estilo neumático e com texto poético.
•Sequência: longos melismas de estrutura bem definida que vinham geralmente após os Aleluias.

Teoria e Prática Musical na idade Média
•Métodos da era carolíngea (Carlos Magno 800 d.C.) mais voltados para a prática (notação, leitura, classificação, interpretação do cantochão) ou ainda improvisar e compôr organum.
•Guido de Arezzo (Musica enchiriadis – anônimo do Séc. IX).
•Modos eclesiáticos (forma acabada no Séc.XI).
•Notas: final e tenor (Autêntico-desce até uma nota abaixo da final. Plagal- pode subir para além da oitava).
•Modos identificados por números e agrupados aos pares.
•Único acidente usado legitimamente no cantochão: Sib.
•Acidentes necessários para a transposição.

Modos Eclesiásticos

•Por quê não havia modos em Lá, Si e Dó na teoria medieval? ( Ré, Mi, Fá cantados com o Sib equivalem à Lá, Si e Dó.
•Lá e Dó (correspondentes ao m e M) só foram teoricamente reconhecidos em meados do Séc. XVI.
•Guido de Arezzo (leitura a primeira vista e memorização – Hino à S.João).
•Notação: aparecimento das linhas (alturas).
•As durações ainda não eram precisas.

Hino a São João
Ut queant laxis resonare fibris
Mira gestorum famuli tuorum,
Solve polluti labii reatum,
Sancte Johannes

Para que as maravilhas de teus atos possam
ressoar com largos cantos,
apaga os erros de lábios depravados,
ó São João.

2
Monodia Secular

Primeiras Formas Musicais
•Goliardos: clérigos ou estudantes antes das grandes universidades (Séc. XI e XII) – canções de caráter informal (vinho, mulheres e sátiras).
•Conductus: para “conduzir” o celebrante de um local para outro. Tem relação muito tênue com a liturgia e no fim do séc. XII o termo já se aplicava à canções não litúrgicas, geralmente de caráter sério, com texto de métrica regular sobre um tema sagrado ou não.
•Canções em vernáculo: chanson de geste (poemas épicos, narrativos, relatos de feitos heróicos, acompanhados por fórmulas melódicas simples – jongleurs et ménestrels).
•Feudalismo, recuperação econômica da Europa, menestréis (alvo de fascínio e repulsa) – canções de domínio popular.

Troubadours e Trouvères
•Troubadours (sul da França) e Trouvères (norte e centro da França). Podiam confiar suas composições aos menestréis.
•A arte de um modo geral florescendo nos círculos aristocráticos: amor (tema predominante dos troubadours), também temas religiosos, debates políticos e morais – organizados em cancioneiros.
•Subtipos de cantigas: Pastourelle (Adam de la Halle – 1284).
•Melodias geralmente silábicas, com figura melismática no fim do verso, repetição variada (estrofes), extensão limitada (sextas, raramente mais que oitava).
•Modos mais usados: I e VII (com seus plagais), mais acidentes de forma a se aproximar dos modos M e m.
•Estrutura formal definida na poesia.
•Minnesinger (Alemanha).
•Franceses e Alemães: cantigas de devoção reliogiosa inpiradas nas cruzadas.

Meistersinger
•Organização de músicos alemães (Séc. XIV, XV, XVI).
•Textos em vernáculo (também de caráter religioso ou não, com idioma melódica derivado tanto do cantochão como das canções populares).
•A partir do séc.XIII a arte dos trouvère, minnesinger e meistersinger passou a ser também objeto de uma burguesia em ascensão.

Cantigas de Santa Maria
•Cancioneiro organizado por Afonso, o Sábio (Espanha, c. 1280).
•Mais de 400 cantigas monofônicas semelhantes às canções dos troubadours.
•Relatam os milagres da Virgem Maria.

Música Instrumental e Instrumentos Medievais
•Música para dança (estampida): monofônica ou polifônica, com várias seções repetidas.
•Instrumentos: lira (herança romana), harpa (ilhas britânicas), vielle (cordas friccionadas – antecessora do violino), saltério, alaúde, flautas, charamelas, trombetas, gaita de foles, órgão portativo e positivo.


Os primórdios da polifonia e a música do Séc. XIII

Transformações
•Séc. XI (transformações importantes na Europa).
•1-A composição substitui a improvisação.
•2-Notação musical (composiçãoXexecução=intérprete).
•3-Princípios ordenados (tratados teóricos).
•4-Polifonia.

Organum PrimitivoSéc.XI
•A música polifônica já ocorria provavelmente na música não litúrgica.
•Primeira menção à polifonia (Musica Enchiriadis c.900).
•Organum paralelo: cantochão (vox principalis) acompanhada em quartas paralelas pela vox organalis.
•Consonâncias (uníssono, 4as, 5as, 8as) e dissonâncias (outras notas de passagem).
•Desenvolvimento de movimentos contrários, oblíquos e paralelos (fim do séc. XI).
•Começou em partes do Ordinário (Kyrie, Gloria, Benedicamus Domino) e do Próprio (Graduais, Aleluias, Tractos e Sequências).
•Polifonia alternada com monodia (solistasXcoro).

Organum MelismáticoSéc. XII
•Voz grave (tenor) que sustenta a melodia principal. A voz melismática (solo) com mais liberdade sobre o bordão. (Organum duplum).
•Regra geral:duas vozes com mesma letra (Tropo) ou voz grave (cantochão) contra outra linha (Tropo com outra letra).
•Novos sentidos para a palavra organum: a)Toda música polifônica com base no cantochão; b) Um tipo de composição (os organa de um compositor, como as sonatas de um compositor); c)Termo latino para os instrumentos musicais, mais particularmente ao órgão.

Organum de Notre Dame
•Desenvolvimento da música polifônica, sobretudo no norte da França: Paris, Beauvais, Sens.
•Léonin (c.1159-c.1201); Pérotin (c.1170-c.1236).
•Pérotin (organum com mais de 2 vozes – triplum, quadruplum).
•Polifonia estritamente eclesiástica.
•Consonâncias.

ConductusSéc. XIII
•Desenvolveu-se de fontes semi-litúrgicas (hinos, sequências), acolhe letras seculares.
•Consonâncias.
•Movimento rítmico mais uniforme entre as vozes (ao modo tripartido 6/8, 9/8), diferente da variedade rítmica do organum (estilo de conductus).
•Quase sempre silábico.
•O tenor era muitas vezes uma melodia nova, não proveniente de um cântico ou outra fonte fonte preexistente (novidade histórica: obra polifônica original).
•O organum e o conductus foram caindo em desuso a partir de c.1250.

Motete
•Difundiu-se a partir do Séc. XIII em Paris.
•Do francês “mot”: palavras acrescentadas ao duplum.
•É comum letras diferentes para cada voz.
•Maior parte composições anônimas.
•Combinação heterogênea de temáticas (canções de amor, música de dança, refrões populares, hinos sagrados), inda baseado no cantochão.
•Ampliação da polifonia para a música não sacra no final do séc. XIII.
•Hoquetos: geralmente aparecem em motetes e conductus no final do séc. XIII e início do séc. XIV (ochetus-soluço).

A notação
•Notação dos padrões rítmicos; (não era rígido; c.1250).
•Baseados nos pés métricos da poesia latina e francesa.
•Necessidade de notar o motete.
•Franco de Colônia (Ars Cantus Mensurabilis c.1250): notas de valor fixo (máxima, longa, breve e semibreve).

3
Música Francesa e Italiana no Séc. XIV


Panorama Geral
•Séc. XIII: estabilidade unidade (Roma e poder papal incontestável). Razão conciliada com a Revelação Divina.
•Séc. XIV: mudança e diversidade (contestação do poder e disputas - de 1304 a 1378 residência em Avignon). Razão Humana e Revelação Divina são domínios separados.
•Quebra do progresso econômico, peste negra, declínio do feudalismo, ascensão da burguesia, fragmentação da Europa (França absolutista e Itália dividida em pequenos estados).
•Importância dos interesses seculares: literatura em línguas vernáculas (Divina Comédia de Dante 1307).
•Primórdios do humanismo: ressurgimento dos estudos da literatura clássica grega e latina.
•Pintura: valorização dos fenômenos mutáveis do mundo (Giotto c.1266-1337).
.
Ars Nova na França
•Ars Nova (1323): tratado escrito por Philippe de Vitry (1291-1361).
•Discussão: a divisão dos grandes valores musicais em figuras menores.
•No Séc. XIV foi mais produzida música profana que sacra. Contínua tendência de secularização do motete.
•Motete: forma típica de composição das solenidades eclesiásticas e seculares.
•Documento musical francês mais antigo do Séc. XIV: Roman de Fauvel (poemas satíricos – um cavalo ou burro alegórico que encarna os pecados representados pelas letras do seu nome: flatterie-adulação;avarice-avareza;vilaine-vileza;variété-leviandade;lâcheté-covardia), com interpolações musicais de Vitry.

Guillaume de Machaut c.1300-1377
•Compositor mais importante da Ars Nova francesa.
•A maioria dos seus 23 motetes baseiam-se no modelo tradicional:um tenor litúrgico instrumental e textos diferentes para as duas vozes mais agudas.
•Canções profanas ao modo dos trouvères.
•Ainda percebe-se as quintas paralelas e muitas dissonâncias, porém uma outra ordem harmônica distingue a Ars Nova de Machaut com as terças e as sextas.

Messe de Notre Dame
•Composição mais famosa do Séc. XIV.
•Uma obra a 4 vozes sobre o Ordinário da missa.
•Diferente dos compositores anteriores como Léonin e Pérotin (despreocupados com a unidade pelos modos e temática entre as divisões da missa, e ainda eram mais usadas as divisões do Próprio): em Machaut - coerência e unidade musical entre as divisões do Ordinário (Kyrie-Gloria-Credo-Sanctus-Agnus Dei), a missa concebida como obra única.
•Alguns teóricos falam de um motivo recorrente ao longo da missa.
•Incertezas quanto à interpretação da missa: instrumentação.

Música no Trecento Italiano
•Atmosfera social e política: França (estabilidade e poder crescente da monarquia) – Itália (disputas de poder entre várias cidades-estados).
•Fonte mais importante: Códice Squarcialupi: provavelmente copiado em Florença por volta de 1420 (proprietário Antonio Squarcialupi 1416-1480) – 352 peças de caráter secular (madrigal, caccia, ballata) para 2 e 3 vozes, de 12 compositores do Séc. XIV (Biblioteca dos Médicis - Florença).
•Madrigal: geralmente a 2 vozes com textos idílicos, bucólicos, amorosos ou satíricos), estrofes com mesma música e figuras melismáticas no fim dos versos.
•Caccia: música mais movimentada em forma de cânone (fuga-caçada). Por vezes uso dos hoquetos e dos ecos para sublinhar o humor e cenas de grande animação (mesma figura comum aos compositores posteriores como Vivaldi e Haydn).
•Ballata: para 2 ou 3 vozes, de caráter lírico para ser dançado.

Francesco Landinic.1325-1397
•Maior compositor de ballata e mais destacado músico italiano do Séc. XIV.
•Grande virtuose cego do organetto.
•Não escreveu música para textos sagrados: 90 ballate a 2 vozes e 42 a 3 vozes, 1 caccia e 10 madrigais.

Especificidades da Prática MusicalSéc. XIV
•Formes Fixes: peças musicais estruturadas (como a ballata italiana ou o viralai e rondel francês).
•Isorritmo: padrões rítmicos similares e em blocos maiores (não somente pequenas células); em todas as vozes do moteto.
•Música Ficta: notas enfatizando os pontos cadenciais dando mais flexibilidade à linha melódica, não notadas na partitura, porém de conhecimento comum dos músicos.
•Desenvolvimento da notação do sistema francês: divisão binária (imperfeito) ou ternária (perfeito) das notas mais longas (longa-breve-semibreve): divisão da semibreve – mínima e semínima escritas pintadas de preto.
•Início do Séc. XV passaram a ser desenhadas como notas “brancas”.

Instrumentos Musicais
•Divisão pela intensidade.
•Altos (haut): charamelas, cornetas, sacabuxas.
•Baixos (bas): harpas, alaúdes, flautas.
•Instrumentos bem presentes na música polifônica, como acompanhantes ou exclusivamente.

4
Da Idade Média ao Renascimento: música da Inglaterra e do ducado da Borgonha no século XV


Música Inglesa
•Música na Inglaterra e norte da Europa maior ligação com o estilo popular.
•Tendência à tonalidade maior (diferente das características do motete francês (linhas independentes, letras divergentes e dissonâncias).
•Uso mais livre de sextas e terças.
•A escola de Notre Dame era conhecida nas Ilhas Britânicas.

Fauxbourdon
•Início do Séc. XV influenciou os compositores continentais; entre c.1420-1450 atingiu todos os tipos de composição.
•Em sentido estrito o termo significa: composição a 2 vozes em sextas paralelas e oitavas intercaladas; uma terceira voz podia ser acrescentada uma quarta abaixo do soprano (melodia principal com o soprano).
•Resultado: três vozes mais equilibradas em importância, reconhecimento da sonoridades das sextas e terças como um elemento fundamental do vocabulário harmônico.

John Dunstablec.1385-1453
•Difusão da música inglesa no continente: vastas possessões e ambições inglesas na França – prováveis serviços de Dunstable ao duque de Bedford (1422-1435) comandante dos exércitos ingleses contra Joana d’Arc.
•Cerca de 70 composições conhecidas hoje: todas as formas de polifonia da época (motetes, Ordinário da missa, cantigas profanas, obras a 3 vozes sobre os mais diversos textos litúrgicos).
•Peças sacras a 3 vozes (mais numerosas e historicamente mais importantes obras; as vozes podem aparecer de diversas maneiras na textura polifônica: algumas com o cantus firmus na voz do tenor, outras com uma linha ornamentada no soprano e uma melodia extraída de outra peça na voz do meio, outras compostas livremente, sem material temático extraído de outro repertório).

Formas de composição inglesas
•Antífonas votivas: (final do Séc. XV – Eton College) - composição sacra em louvor de santos ou da Virgem, polifonia de 5 a 9 vozes, alternância entre grupos maiores e menores, música de cerimônias inglesas até meados do Séc. XVI.
•Carol: (Séc. XV) origem nas cantigas de dança como o rondeau e a ballata, com alternância de coro e solista, de 2 a 4 vozes sobre um poema religioso de estilo popular (Ex: encarnação), mistura de rimas inglesas e latinas, melodias alegres, em ritmos ternários e, apesar de não serem canções populares, tinha esse aspecto.

A música no ducado de Borgonha
•Reino soberano em uma grande região do norte da Europa: Bélgica, Holanda, nordeste da França, Luxemburgo.
•Como em outros centros europeus, a corte de Borgonha contaram com excelentes recursos musicais, disputando os serviços de cantores e compositores eminentes.
•Esta corte tinha um ambiente cosmopolita, visitada por músicos estrangeiros ganhou, de certa forma, status de estilo internacional e influenciou outras cortes importantes.

Guillaume Dufayc.1400-1474
•Músico atuante em diversos ambientes, da Borgonha até Roma, Florença, Bolonha.
•Fontes em manuscritos de origem italiana.
•Principais tipos de composição do período borgonhês: missas, motetes, chansons profanas em francês.
•Tendência como do Séc. XIV:diferença tímbrica entre as vozes visando a transparência na textura no conjunto da peça, linha melódica do discantus evolui em frases líricas até figuras melismáticas antes das cadências importantes, influência inglesas como o fauxbourdon.

Motetes borgonheses
•Habitual 3 vozes ao estilo de chanson: soprano solo melodicamente livre associado a um tenor e apoiado por um contratenor.
•Principal diferença em relação aos anteriores: a melodia do cantochão utilizada não tinha mais apenas a função de um resíduo simbólico da tradição, era também uma parte concreta e expressiva da composição.
•Motetes para cerimônias solenes: Nuper rosarum flores de Dufay para a consagração do duomo Santa Maria del Fiore (Florença, 1436).

MissasSéc.XV
•Composição polifônica do Ordinário musicalmente unificada (desejo de uma forma musical ampla e complexa).
•Primeiramente as cinco partes podiam ser compostas no mesmo estilo geral, como ballade ou chanson (no continente).
•Outra opção para a unidade das partes do Ordinário: Missa de cantus firmus ou Missa de tenor (o uso do mesmo cantus firmus em todas as partes) – prática que começou na Inglaterra, mas que logo foi assimilada na Europa continental.
•Acréscimo de uma quarta voz no baixo (bassus), assim a voz do tenor, originalmente o cantus firmus, torna-se uma voz no interior da textura, ganha mais liberdade e é usada para unificar a missa.
•Vozes: 1- cantus (ou discantus ou superius);
2- contratenor altus; 3- tenor; 4- contratenor bassus.

5
A era renascentista e novas correntes do Século XVI


Renascimento
•Volta aos gregos e latinos (clássicos traduzidos a partir de manuscritos).
•Valores humanos em oposição aos valores espirituais: realização pessoal em vida (expressão das emoções humanas).
•Valorização da educação clássica em oposição à educação religiosa: realização pessoal através dos estudos, aquisição e embelezamento de propriedades e mecenato.
•Novas idéias em outras áreas: racionalismo e humanismo (Michelangelo, Lutero, Copérnico, Shakespeare).

Música do Renascimento
•Terças e Sextas admitidas também na teoria musical.
•Mudança na afinação para amenizar as consonâncias imperfeitas e chegar até as notas da escala cromática.
•Associação estreita com do músico com a literatura: músico e poeta (ritmo da fala e prosódia).
•Impressão de partituras: Gutenberg (1450) (livros litúrgicos com notação de cantochão c.1473 e música polifônica impressa em Veneza por Otaviano Petrucci 1501).
•Segunda metade do Séc. XV: a missa era a principal forma de composição (época de grande prestígio da música sacra polifônica, porém com a prática das formas profanas, como as chansons).
•Compositores como Ockeghem aproveitavam os temas de suas chansons para constituírem os cantus firmi de missas.

Johannes Ockeghem c.1420-1497
•Sonoridade semelhante à de Dufay.
•Textura contrapontística a 4 vozes (aspecto mais denso, homogêneo, grandes frases, fluxo parecido com o cantochão melismático).
•Tessitura habitual das vozes no final do Séc. XV:
•Contraste criado com a omissão de vozes por trechos inteiros ou ritmos idênticos em todas as vozes.
•A utilização em escrita canônica (cânone=regra,lei), muitas vezes dissimulada entre o discurso das 4 vozes.

Josquin des Prez c.1450-1521
•Compositor muito aclamado em sua época.
•Fronteira entre o mundo medieval e moderno.
•Missas de Imitação: apresentações fugadas ou em respostas, motivos característicos retirados de uma chanson, missa ou motete preexistente.
•Preocupação de associar música ao texto. (Ex:Chanson Mille regretz – regretz, paine doulourouse / arrependimento, aflição dolorosa: a música acompanha a letra em forma de linhas descendentes e Motete Absolon fili mi – sed descendam in infernum plorans/mas desça ao inferno chorando: a música acompanha a letra, descendo melodicamente e harmonicamente).
•Chanson Mille regretz – igualdade entre as vozes está clara nas figuras de imitação.
•A música do Séc. XV geralmente terminava em consonâncias perfeitas, em oitavas, ou quintas e oitavas.

Novas correntes do Século XVI
•Geração Franco-Flamenga (1520-1550): geração de compositores do norte seguinte a Josquin des Prez (Gombert,Clemens, Senfl, Willaert).
•A influência cosmopolita dos compositores do norte perde força e criam-se novos estilos em cada país (os estilos locais seriam mais conhecidos e assim, mais apreciados pela maioria das pessoas do que a arte erudita dos compositores do norte; ampliação da diversidade da expressão musical).
•Características Gerais: maior número e importância de composições instrumentais, missa de imitação (imitação de modelos polifônicos substituindo o cantus firmus), melodias do cantochão usadas de maneira ainda mais livres como temas nas missas e motetes, escrita para 5 ou 6 vozes (complexidade contrapontística).

Adrian Willaert c.1490-1562
•Relação ainda mais estreita com o texto, um dos primeiros compositores a exigir a impressão de sílabas abaixo das notas correspondentes, técnica composicional de evitar as cadências (prolonga o discurso musical, delimita melhor as idéias e finalizações, favorece a escrita contrapontística), trabalhou na igreja de S.Marco (Veneza 1527-1562: Zarlino, de Rore, A.Gabrieli).

A afirmação dos estilos nacionais
•ITÁLIA: transição no Séc. XVI para se tornar um grande centro musical.
–Frottola: canção estrófica italiana de estrutura rítmica bem marcada, harmonia diatônica simples, estilo silábico, a 4 vozes, estilo homofônico, melodia na voz aguda.
–Lauda: canção de devoção religiosa, não litúrgica e de caráter popular, textos em latim ou italiano, a 4 vozes, com os aspectos musicais semelhantes à frottola, sem revelar grande influência do estilo musical sacro franco-flamengo.

•FRANÇA: desenvolvimento da chanson em estilo mais marcadamente nacional, editor Pierre Attaignant (publicou em Paris entre 1528-1552: 1500 peças em estilo chanson) – principais compositores de chansons das primeiras coletâneas de Attaignant: Sermisy (c.1490-1562)(Tant que vivray) e Clément Janequin (c.1485-c.1560) (música descritiva – Le roussignol).
–Chanson: semelhante à frottola italiana, canções rápidas, geralmente binárias com passagens em ternário, melodia na voz aguda, possibilidade de figuras imitativas, estruturas curtas e bem definidas.

•ALEMANHA: a polifonia desenvolveu-se mais tarde na Alemanha do que nos demais países europeus. A arte monofônica dos Minnesinger (Séc. XIV) e Meistersinger (Séc.XV-XVI) só gradualmente, a partir de c.1500, foi sendo influenciada pela polifonia franco-flamenga. Os primeiros mestres do lied polifônico foram Isaac (c.1450-1517), Finck (1445-1527), Hofhaimer (1459-1537).
–Lied: com o desenvolvimento da sociedade urbana e mercantil nasceu uma forma tipicamente alemã de Lied polifônico. Os Lieder eram usados na corte ou nos círculos da elite, geralmente a 4 vozes, estruturados no antigo estilo do cantus firmus, em imitação ou estilo homofônico, com a voz principal no cantus ou no tenor.

•ESPANHA: no final do Séc. XV as obras dos compositores borgonheses e franco-flamengos eram conhecidas e cantadas na Espanha, ao mesmo tempo de se desenvolveu um estilo de música polifônica nacional com elementos de origem popular (villancico – Juan del Encina 1469-1529). A polifonia sacra espanhola na obra de Morales (c.1500-1553) e, posteriormente, de Victoria (1548-1611) caracteriza-se pela sobriedade melódica e moderação nos artifícios contrapontísticos.
–Villancico: breve canção estrófica com refrão, melodia principal na voz superior, provavelmente um solista acompanhado dois ou três instrumentos.

•INGLATERRA: o estilo de composição imitativa dos franco-flamengos passou a influenciar a música inglesa a partir de c.1510, apropriando estes elementos à música popular (Ballet – Thomas Morley c.1557-1610). Porém, a música polifônica inglesa do final do Séc. XV e Séc.XVI que chegou até nós é sobretudo de caráter sacro, e mostram uma predileção pela sonoridade plena, a 5 ou 6 vozes, com a utilização de grupos contrastantes. Principais compositores: Taverner (c.1490-1545) Tye (c.1505-1572), Tallis (c.1505-1585).
–Ballet: canto estrófico leve, homofônico, para 3 ou mais cantores, caracterizados por ritmos dançantes e “fa-la-la”.

Madrigal
•Foi o gênero mais importante da música profana italiana no Séc. XVI. Tornou-se uma forma genérica internacional.
•Inicialmente com 4 vozes, depois com 5 ou mais vozes.
•A maioria dos compositores se baseava na obra do poeta Petrarca (1304-1374) (Pietro Bembo 1470-1547), que usou a sonoridade das palavras como guia nos seus poemas: (o ritmo, a estrutura da rima, o número de sílabas por verso, a acentuação, a duração das sílabas, as propriedades sonoras de determinadas vogais ou consoantes eram determinantes na elaboração de um sentimento aprazível (piacevolezza) ou grave (gravità) nos seus versos).
•Música: caráter-sentimento do texto associado estreitamente com o discurso musical – cromatismo, cadências e frases musicais sincronizadas com o texto como recurso expressivo.
•Alguns compositores madrigalistas: Orlando di Lasso (1532-1594), Jacques Arcadelt (c.1507-1568), Cipriano de Rore (1516-1565), Adrian Willaert (c.1490-1562), Luca Marenzio (1553-1599), Carlo Gesualdo (c.1561-1613), Thomas Morley (1557-1602), Claudio Monteverdi (1567-1643).

Música Instrumental no Século XVI
•Mais notação da música instrumental (aumento do interesse teórico, publicação de livros que descrevem os instrumentos ou dão instruções sobre a forma de tocar): Musica getutscht und ausgezogen (Resumo da ciência e da música) de Sebastian Virdung 1511 e Syntagma musicum (Tratado de música) de Michael Praetorius 1618.
•Tradição da música instrumental improvisada (contrapunto alla mente).
•Composições para música instrumental derivada da música vocal, como os madrigais, chansons e motetes (ornamentação melódica – primeiramente improvisada e depois passou a ser notada: origens da escrita instrumental do início da era barroca).
•Busca pelo contraste e repetição no discurso musical com base exclusivamente na música, não mais ligadas à liturgia ou aspectos do texto.

Música de dança
•Composições notadas para alaúde, instrumentos de teclado (clavicórdio ou cravo) ou outras formações. Geralmente as danças eram agrupadas em pares contrastantes, com a primeira binária lenta e a segunda ternária rápida variando o tema da primeira: pavana & galharda; passamezzo & saltarello.
•Outras danças foram se estilizando no Séc. XVI e constiuíram as suites dos períodos seguintes: allemande e a courante.
•A música de dança no Séc. XVI se afasta da finalidade original e passa a constituir um vasto repertório de música instrumental estilizada (como as valsas de Chopin no Séc. XIX, por exemplo).
•Basse danse: uma das danças de corte preferidas do início do Séc. XVI, onde os instrumentistas improvisavam com base em um tenor tomado de empréstimo (branle: um dos passos básico da basse danse).

Música Instrumental no Século XVI
•Canzona: forma instrumental independente - canzona de sonar (chanson para ser tocada).
•Toccata: forma de música improvisada no teclado na segunda metade do Séc. XVI. Esta forma podia ganhar outros nomes como: Fantasia, Prelúdio, Intonazione.
•Ricercar: expressão usada primeiramente pelos alaudistas e consiste em uma forma instrumental que segue o protótipo da música vocal, como o motete (procurar, buscar, tentar, experimentar).
•Sonata: o termo começou a ser usado ainda no Séc. XV para uma variedade de peças para instrumentos solistas ou em conjunto. No Séc.XVI, a sonata veneziana é o equivalente sacro da canzona e consiste numa peça em várias seções, cada uma com temas diferentes ou variações do mesmo tema, antecessora da sonata da chiesa e da posterior sonata barroca.
•Giovanni Gabrieli (c.1557-1612): música policoral com instrumentos em Veneza (S.Marcos). Partes específicas para conjuntos instrumentais e indicação de dinâmica na partitura (Sacrae Symphoniae 1597).
•Variações: as melodias utilizadas como base para as variações eram, em geral, breves e do tipo canção, fraseado regular, estrutura clara, binária ou ternária (este é o princípio das formas posteriores como chaconne e passacaglia). Compositores ingleses foram expoentes da variação em composições para virginal (instrumento de tecla da família do cravo): William Byrd, John Bull, Orlando Gibbons, Thomas Tomkins.

6
Música sacra no Renascimento tardio

A música da Reforma na Alemanha
•Martinho Lutero: 95 teses em Wittenburg (1517): manutenção da música católica (cantochão e polifônica), com texto original latino, ou texto original traduzido para o alemão, ou novos textos em alemão adaptados às antigas melodias; as melodias não eram alteradas com alteração pessoal (como os compositores de organa sobre as melodias do cantochão).
•Lutero desejava a participação da congregação na música dos serviços religiosos.
•O Coral luterano: Choral ou Kirchenlied, hino estrófico cantado pela congregação; como o cantochão ou a canção popular, o coral se compõe essencialmente de dois elementos (um texto e uma melodia); as primeiras coletâneas de coral destinavam-se a ser cantadas pela congregação em uníssono, sem harmonização e sem acompanhamento; Ein feste Burg.

A música da Reforma na Alemanha
•Contrafacta: tipo de coral onde a melodia se conserva, mas o texto é substituído por uma letra nova. Ex: O Welt, ich muss dich lassen adaptação do Lied de Henricus Isaac, Innsbruck, ich muss dich lassen.
•Corais polifônicos: segunda metade do Séc. XVI houve uma tendência de composições a 4 vozes em progressão por acordes (diferente do contraponto livre ou imitação), com a voz a principal no soprano, simplicidade rítmica, semelante aos hinos. Os arranjos polifônicos não destinavam-se à congregação, mas sim ao coro. A partir de 1600 o uso gradual do órgão tocando as 4 vozes enquanto a congregação canta a melodia.
•O motete coral: melodias tradicionais como material de base para a livre criação artística, com interpretação individual e com a possibilidade de figuras descritivas (típico das regiões de predomínio luterano).
•O motete coral confirmou a divisão que sempre existira na música luterana, entre os simples hinos congregacionais e a música mais elaborada para um coro com formação musical.
•Principais compositores do Séc. XVI- XVII: Hans Leo Hassler, Michael Praetorius, Johann Hermann Schein, Johannes Eccard, Leonhard Lechner.
•A música destes compositores definiu o estilo de música sacra luterana, o que viria 100 anos depois culminar com J.S.Bach.

Música sacra da Reforma fora da Alemanha
•Oposição mais enérgica que Lutero na manutenção dos elementos do cerimonial católico.
•Maior desconfiança com os atrativos da arte: proibição de textos não bíblicos.
•Coleções de Salmos: traduções métricas rimadas do Livro dos Salmos, com melodia novas (muitas vezes de origem popular), ou adaptadas do cantochão.
•Coleção de Salmos de 1562: salmos traduzidos por Clément Marot e Théodore Bèze com melodias de Loys Bourgeois (c.1510-c.1561).
•Compositores importantes: Claude Le Jeune, Claude Goudimel, J.P. Sweelinck.
A Contra-Reforma
•Concílio de Trento (1545-1563): crítica vaga ao cantus firmus e à chanson imitativa, como a dificuldade em entender o texto litúrgico, ao uso exacerbado de instrumentos musicais.
•Apesar das críticas, sabe-se que o Concílio não proibiu especificamente a música polifônica ou a imitação de modelos profanos.

Giovanni da Palestrina1525-1594
•Maioria de composições sacras: 104 missas, c. de 250 motetes e c. de 50 madrigais de caráter e mais de 100 de caráter profano.
•Compositor anterior a J.S.Bach mais estudado.
•Influência dos compositores franco-flamengos (denotando o seu conservadorismo, de caráter clássico, com o emprego de cânones e textura a 4 vozes).
•Emprego preferencial dos graus conjuntos, com raros saltos, clareza na harmonia com pouco uso de cromatismo, melodia com longas linhas diatônicas, ritmo regular de aspecto binário ou quaternário.
•Stile Antico (Estilo Antigo): o estilo de Palestrina foi o primeiro na história da música ocidental a ser conscientemente preservado.
•Tomás Luis de Victoria (1548-1611): música parecida com a de Palestrina (ligação com Roma), porém de maior caráter pessoal (influência espanhola), mais ênfase na expressão do texto, com suspensões dissonantes.
•Palestrina = Rafael e Victoria = El Greco.
•Orlando Di Lasso (Itália) e William Byrd (1543-1623 Inglaterra).

A escola veneziana
•Veneza era no Séc. XVI a segunda cidade mais importante da península itálica (ligação com o oriente, isolamento dos vizinhos, tradição da Abadia de S. Marcos).
•Giovanni Gabrieli (c.1553-1612): motetes policorais venezianos (contraste e oposição de sonoridades): este contraste tornou-se um fator fundamental do estilo concertato do período barroco.

7
Música do primeiro período barroco

Transformações na músicaRenascimento - Barroco
•Formas instrumentais puras (ricercare, canzona e toccata).
•Principal característica das canções solo renascentistas era o lirismo ao estilo dos madrigais. Uma das inovações no início do Séc. XVII foi o uso da canção solo como veículo de expressão dramática.
•Distinção entre a Prima Prattica (entendia-se pela polifonia vocal representada pela obra de Willaert e nos escritos teóricos de Zarlino) e a Seconda Prattica (pelos estilo dos modernos italianos como Marenzio, Rore e Monteverdi).
•Prima e Seconda Prattica também eram chamadas de Stile antico ou Stile moderno ou Stylus gravis (severo) ou Stylus luxurians (ornamentado).
•Predomínio do estilo italiano, com importantes centros artísticos: Veneza, Florença, Roma e Nápoles.

Barroco
•Continuidade das práticas do Renascimento.
•Palavra primeiramente usada com sentido pejorativo: pérola de formato irregular em português antigo. Por muito tempo a palavra é usada para designar algo de “mau gosto,” “exagerado”, “grotesco”.
•Barroco é um nome genérico e conceitual e não encerra as características musicais. Como os outros conceitos históricos (como gótico, renascentista, romântico) encerra várias atividades criadoras dos homens.
•Pensou-se em nomes para este período da música como: período do baixo-contínuo ou período do estilo concerto.
•O período é difícil de delimitar, porém geralmente é explicado entre os anos de c.1600 – c. 1750.
Aspectos musicais
•Escrita idiomática: Ex: música escrita especificamente para violino ou para voz solista, diferente da música anterior que poderia ser cantada ou tocada por quase qualquer combinação.
•Aperfeiçoamento da família dos violinos (Itália) e apreciação das violas (França). Aperfeiçoamento dos instrumentos de sopro, que passaram a ser usados de acordo com suas características tímbricas e recursos particulares. Desenvolvimento para música para instrumentos de teclado e do virtuosismo vocal.
•Indicação de dinâmica.
•Distinção entre os estilos vocal e instrumental, tanto que os compositores podiam utilizar conscientemente recursos vocais na escrita instrumental, e vice-versa.
•Baixo contínuo: textura típica com um baixo firme e uma voz aguda ornamentada. O compositor escrevia a melodia e o baixo, enquanto o instrumentista de teclado ou alaudista preenchia as vozes intermediárias com notas baseadas nos acordes convenientes.
•Dissonância e cromatismo: estrutura musical ordenada pelo sistema tonal (modos maior e menor) (Tônica - afastamento e tensão na Dominante -Tônica).

A Teoria dos Afetos
•Extensão da musica reservata do início do Séc. XVI (música associada ao texto).
•Desejo dos compositores de exprimirem afetos ou estados de espírito como ira, agitação, majestade, heroísmo, elevação contemplativa, assombro ou a contemplação mística, etc. Estes efeitos musicais eram intensificados por meio de contrastes violentos.
•Estes afetos são sentimentos num sentido genérico e não a expressão dos sentimentos individuais de um artista.
•A partir de 1600 alguns teóricos já passaram a classificar e sistematizar esta tarefa, porém esta tarefa foi realizada principalmente a posteriori.
•Associação com as figuras de retórica. Ex: Processo de Composição: invento (descoberta) – dispositio (planificação) – elaboratio (elaboração do material).

Ritmo
•Também usado como forma de contraste; (1) por um lado o ritmo de métrica regular, com barra de compasso e por outro (2) o ritmo livre, sem métrica, como nas peças instrumentais solistas, recitativos ou improvisos. Ex: um exemplo mais tardio é a toccata & fuga, recitativo & aria.
•Ritmos de danças (já conhecidos nos séculos anteriores), porém agora organizados metricamente, em compassos, em estruturas definidas de tempos fortes e fracos.

Música Instrumental
•1: Tipo fugado:peças em contraponto imitativo contínuo (não dividido em seções). Chamavam-se ricercare, fantasia, fancy, capriccio, fuga, verset, etc.
•2:Tipo canzona:peças em contraponto imitativo descontínuo (ou seja, dividido em seções).
•3:Variação: peças que efetuam variações sobre um tema: partita, passacaglia, chaconne, partita coral, prelúdio coral.
•4: Danças: ritmos de dança estilizados agrupados entre si. Os agrupamentos mais estreitos denominam as suites.
•5: Improviso: geralmente para instrumentos de teclado ou alaúde: toccata, fantasia, prelúdio.

8
O princípio da ópera


Precursores da ópera
•Música vocal renascentista: madrigal (lirismo).
•Final do Séc. XVI a dramaticidade invade a música vocal. Estava próximo da idéia de ópera os madrigais em que o compositor tomava como texto uma cena dramática de um poema. Ex: Gerusalemme liberata de Tasso e Il pastor fido de Guarini.
•Intermedi ou Intermezzi.
•Inspiração nos clássicos gregos.
•Pastorela.

Camerata Florentina
•Girolamo Mei – erudito florentino editor de várias tragédias gregas e entre 1562-1573 pesquisou, no original grego, quase todas as obras sobre música da antiguidade (De modis musicis antiquorum).
•Giovanni Bardi (mecenas que promovia encontros informais no seu palácio em Florença) e Vicenzo Galilei: os encontros também contavam com a presença do compositor Giulio Caccini (1551-1618).
•Mei chegara à conclusão de que os gregos conseguiam obter efeitos singulares com a música porque esta consistia numa única melodia, cantada solo com acompanhamento ou cantada por um coro.
•Galilei (1581): Dialogo della musica antica e della moderna – com base na obra de Mei, Galilei ataca a teoria e prática contraponto vocal, como o que era corrente no madrigal italiano. Defendia que uma única linha melódica, com alturas e ritmos apropriados poderia exprimir um verso.

As primeiras óperas
•O estilo Recitativo.
•Jacopo Peri (1561-1633): Euridice (1600).
•Claudio Monteverdi (1567-1643): Orfeo (1607).
•Ópera Veneziana: 1- ênfase no canto solístico; 2- distinção entre recitativo e ária; 3- introdução de esquemas próprios para as árias; 4- maior autonomia da música em relação à poesia.
•Pier Francesco Cavalli (1602-1676); Antonio Cesti (1623-1669)
•O formato de ópera desenvolvido pelos compositores venezianos até meados do Séc. XVII torna-se o modelo para os dois séculos seguintes.

9
Principais formas musicais do Século XVII e início do Século XVIII


Oratório
•Surgiu quase na mesma época da ópera.
•O nome origina-se do Oratório de São Felipe de Néri (Roma).
•Primeiramente semelhanças com a ópera, com recitativos, árias, coros, cenários e fantasias, porém baseados em temas sacros (histórias geralmente tiradas da Bíblia).
•Com o tempo as representações foram caindo em desuso e o oratório passou a ser executado como uma apresentação musical, em igrejas e salas de concerto.
•Paixão, Corais, Cantata.

Suíte
•Herança renascentista de ligar uma dança na outra, geralmente danças contrastantes.
•Com os compositores barrocos a suíte se estabeleceu enquanto forma composicional, para instrumentos solo ou grupo de câmara.
•O esquema mais comum acabou abrangendo uma série de 4 danças de diferentes países: allemande, courante, sarabanda e giga.
•Outras danças: bourrée, minueto, gavota, passe-pied (prelúdio).
•Todas danças da suíte na mesma tonalidade, geralmente na forma AB, porém pode ser em forma rondó.

Sonata
•Sonare: peça para ser tocada.
•Trio-Sonata: Ex: dois violinos (flauta, oboé), cello e cravo.
•Sonata da camera e Sonata da chiesa: geralmente quatro movimentos contrastantes (lento-rápido-lento-rápido).
•Desenvolveu-se principalmente como uma forma solista e para duo.

Concerto
•Italiano = consonância; Latim = disputa.
•Música policoral de Giovanni Gabrieli.
•Concerto Grosso: ripieno X concertino.
•Concerto Solo: solista X orquestra.
•Estrutura mais usual: Tutti 1-Solo1-Tutti 2- Solo 2 etc...

Ópera
•Recitativo e Ária.
•Abertura italiana: rápido-lento-rápido – base da sinfonia clássica. (Alessandro Scarlatti).
•Ária da capo: ABA – o D.C. como repetição variada.
•Abertura francesa: lento, majestoso, incisivo com figuras pontuadas. (Jean-Baptiste Lully e Jean-Philippe Rameau).

Compositores representativos da música ocidental do Século XVII e primeira metade do Século XVIII.
•Compositores:
•1- Jean-Philippe Rameau (1683-1764).
•2- Antonio Vivaldi (1678-1741).
•3- George Frideric Haendel (1685-1759).
•4- Johann Sebastian Bach (1685-1750).

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Primeira metade do Século XVIII e origens do estilo clássico


Música instrumental
•Origens de alguns tipos genéricos de composição (Séc. XVII):
–O tipo fugado: peças em contraponto imitativo contínuo (não dividida em seções). Chamavam-se ricercare, fantasia, fancy, capriccio, fuga, verset e outros nomes.
–O tipo de canzona: peças em contraponto imitativo descontínuo (dividido em seções), por vezes com elementos de outros estilos. Estas peças dão lugar, em meados do século XVII, à sonata da chiesa.
–Peças que efetuam variações sobre uma dada melodia ou baixo: partita, passacaglia, chaconne, partita coral e prelúdio coral.
–Danças e outras peças em ritmo de dança mais ou menos estilizados, quer frouxamente agrupadas entre si, quer integradas de forma mais estreita em uma suite.
–Peças de estilo improvisatório para um instrumento de tecla ou alaúde, solistas: podiam chamar-se toccata, fantasia e prelúdio.

Principais formas da música barroca
•Ópera.
•Concerto.
•Sonata.
•Trio-Sonata.
•Suite.
•Oratório.
•Tocata.
•Fuga.
•Tema e Variações.

Temperamento igual
•Em 1567 o alaudista Giacomo Gorzanis compilara um ciclo de 24 pares passamezzo-saltarello , um para cada uma das tonalidades maiores e menores e Vincenzo Galilei deixou um manuscrito (1584), também para alaúde, de 12 conjuntos de passamezzo antico-romanesca-saltarello (tonalidades menores) passamezzo moderno-romanesca-saltarello (tonalidades maiores).
•Alaúde: trastes espaçados de tal forma que a oitava se dividia em doze semitons iguais.
•Quintas e quartas puras da afinação pitagórica, com terças maiores muito grandes e terças menores muito curtas.
•Quando a simultaneidade tornou-se corrente no final do Século XV, combinando terças e quintas ou terças e sextas, os instrumentistas de tecla começaram a ajustar a afinação das quintas e quartas por forma a obterem melhores terças e sextas. Temperamento mesotônico: terças maiores ligeiramente maiores que as puras e as quintas ligeiramente menores.
•Temperamento igual: todos o semitons são iguais e todos os intervalos são diferentes dos puros, mas ainda aceitáveis. Ex: O Cravo Bem Temperado (J.S.Bach - 1722).

FUGA
•Forma independente no final do Século XVII.
•Vozes independentes que enunciam um tema em entradas sucessivas (exposição).
•Regra geral: o tema é exposto na tônica e resposta na dominante; as outras vozes alternam depois tema e resposta.
•As exposições integrais ou parciais dos temas são separadas por breves episódios (passagens em que não se ouve o tema em nenhuma voz e que podem servir para modulações).
•Regresso à tonalidade: stretto e aumentação.

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Segunda metade do Século XVIII
Haydn e Mozart


Joseph Haydn (1732-1809)
•Trabalho na corte Esterházy cerca de trinta anos (um dos últimos músicos eminentes com este tipo de trabalho).
•Eszterháza: isolamento, criatividade, experimentação e produção contínua.
•Viagens a Londres (1791-1792; 1794-1795) – Doutorado em Oxford (1791).
•1790 – Residência em Viena.

A obra de Haydn
•Impossível precisar a produção de Haydn (alvo de falsificações devido à fama); oficialmente 108 sinfonias e 68 quartetos.
•Sinfonia clássica dividida em quatro andamentos: allegro – andante moderato – minueto e trio – allegro. (instrumentos de sopro cada vez mais independentes da seção das cordas: algo negligenciado muito pelas orquestras modernas).
•Forma Sonata.
•Sturm und Drang (oposto ao estilo galante).
• Quartetos (2 violinos, viola e cello): independência e igualdade de importância entre as vozes.

Wolfgang Amadeus Mozart(1756-1791)
•Gênio precoce (filho de Leopold Mozart - Salzburg); formação sistemática desde os primeiros anos de vida.
•Mais de 600 composições catalogadas em 1862 por L. von Kochel.(KV – Kochel Verzeichnis).
•Mozart dos 6 aos 15 anos passou mais da metade do seu tempo em viagens ou em exibições públicas de seu talento; tocando, improvisando e compondo.
•O jovem Mozart familiarizou-se com os vários estilos de música da época por causa das muitas viagens (Alemanha, Itália, França, Inglaterra). Sua obra acabou tornando-se uma síntese de estilos nacionais.

Wolfgang Amadeus Mozart
•Primeiras sinfonias pouco antes dos 9 anos, primeira oratória com 11 anos, primeiras óperas com 12 anos (La finta semplice; Bastien und Bastienne).
•Contato com a música de J.C.Bach (Londres) e Haydn (Viena).
•Período de 1774-1781 Mozart viveu maior parte do tempo em Salzburg: sonatas para piano e violino, serenatas, concertos para violino, música sacra.
•Período vienense (1781-1791): 25 – 35 anos. Sucesso nos 5 primeiros anos e então a decadência financeira, afetiva e de saúde até sua morte precoce. Como compositor foi o período da maturidade (óperas, sinfonias, quartetos, concertos para piano, etc.)
•Influência de J.S.Bach, sobretudo na escrita contrapontística e seriedade, percebidas sobretudo na Flauta Mágica e Requiem (Mozart conheceu a Arte da Fuga e o Cravo Bem Temperado em 1782).

12
O período revolucionário e início do romantismo

Classicismo e Romantismo
•Transformações no séc. XVIII: Revolução Francesa (mudança da organização social).
•Problemas na terminologia (Clássico).
•Clássico-Romântico: falsa antítese na história da música.
•Continuum 1770-1900 (nos domínios da progressão harmônica, ritmo e forma).
•Pensamento científico (outros conceitos são também elaborados Ex: sentido não pejorativo ao gótico).

Romantismo
•Romântico: deriva de romance, cujo sentido literário original era o de uma narrativa ou poema medieval sobre personagens ou episódios e escritos numa das línguas românticas. A palavra romântico passou a ser empregada em meados do século XVII com a conotação de algo distante, lendário, fictício, um mundo imaginário ou ideal em oposição ao mundo real e presente.
•O desligamento com o presente leva o artista a pensar na “obra para o futuro”.
•“A adição do estranho ao belo” (Walter Pater); “Não há beleza excelente que não tenha alguma estranheza na proporção” (Lord Bacon).

Características do Romantismo
•Apesar da arte romântica buscar a sua matéria à vida real, transforma-se, criando, assim, um mundo novo, que necessariamente se afasta, em maior ou menor grau, do mundo de todos os dias. Difere da arte clássica pela maior ênfase a este caráter de distância e estranheza (na escolha e tratamento do material).
•Romântico como sentido genérico: manifesta-se em outros períodos históricos (renascimento-barroco; classicismo-romantismo).
•Clássico: equilíbrio, auto-domínio, perfeição dentro de limites bem definidos (IDEAL ESTÉTICO RECONHECIDO). Romântico: liberdade, paixão, movimento, abarcar o mundo inteiro, busca do inatingível (EXPRESSÃO INDIVIDUAL).
•A personalidade do artista confunde-se com a obra.
A música e a sociedade
•Compositor e público: transformações nos últimos 100 anos de um público restrito e culto para um público numeroso, diversificado e relativamente pouco preparado.
•O fenômeno do artista romântico: pouco sociável e isolado.
•Contraste das criações musicais do Século XIX: grandiosas (sinfonias, óperas) e intimistas (lieds, peças para piano solo).
•Diferenciação entre músicos amadores e profissionais; a figura do virtuose.
•Revolução Industrial: aumento da população urbana, população anônima.
•Mudança dos instrumentos musicais; aumento das orquestras.
•Nacionalismo (folclore).

13
Ludwig van Beethoven
(1770-1827)


O homem e sua música
•Século XVIII e Revolução Francesa: circunstâncias externas e a força do próprio gênio levam à transformação.
•Clássico: equilíbrio, auto-domínio, perfeição dentro de limites bem definidos (IDEAL ESTÉTICO RECONHECIDO). Romântico: liberdade, paixão, movimento, abarcar o mundo inteiro, busca do inatingível (EXPRESSÃO INDIVIDUAL). A personalidade do artista confunde-se com a obra.
•Disparidade entre a quantidade da produção de Haydn-Mozart e Beethoven: obras mais longas e dificuldade de escrever.
•Relação com os patronos: isolamento social e tempo para criar. O público ideal e universal.
•Influência de outros compositores: além de Bach, Haydn e Mozart; Muzio Clementi (1752-1832), Jan Ladislav Dussek (1760-1812).
•A surdez já se manifestava em 1796 e em 1820 Beethoven chega ao estágio final.

A Obra de Beethoven
•Geralmente as composições de Beethoven são ordenadas em três fases distintas, como forma cômoda de organizar uma reflexão sobre sua música.
•Fase 1: até c.1802 (Beethoven muda-se para Viena em 1792) Ex: Sonatas para piano até Opus 14 (as 10 primeiras sonatas), até a Segunda Sinfonia, quartetos de corda Opus 18.
•Fase 2: até c. 1816 (fase de “independência”) Ex: até a Oitava Sinfonia, Concertos para piano e violino, Sonatas para piano até Opus 90, ópera Fidélio, quartetos de corda Opus 59, 74 e 95.
•Fase 3:até sua morte em 1827 (fase “introspectiva e meditativa”) Ex: Nona Sinfonia, Variações Diabelli, Missa Solemnis, quartetos de corda Opus 127,130, 131, 132 e 135.
Beethoven e os Românticos
•Mudanças na instrumentação da orquestra.
•Dificuldade de compreensão de seus contemporâneos (sobretudo das últimas obras).
•Composições que mais influenciaram as gerações seguintes: quartetos Opus 59 (Rasumovsky), Sinfonias 5,6 e 7, sonatas para piano.
•Música programática: música instrumental associada a uma matéria poética, descritiva ou mesmo narrativa, não por meio de figuras retórico-musicais nem pela imitação dos sons e dos eventos naturais, mas pela SUGESTÃO IMAGINATIVA.

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Música Romântica Vocal

Características da Música Romântica
•Apesar de usarem esquemas de composição semelhantes aos compositores anteriores (sonata, sinfonia, concerto, missa, canção, etc.), a música romântica apresenta algumas diferenças técnicas.
•Ex: uma peça de piano de Chopin ou Schumann pode ser compreendido como uma série de episódios pitorescos sem qualquer vínculo forte que garanta unidade formal do conjunto da obra. Porém, os oratórios ou sinfonias românticas conseguia um novo tipo de unidade, apresentando o mesmo tema ou motivo em vários andamentos.

LIED
•Influência da Balada do Século XVIII: poemas longos, onde a narrativa e o diálogo alternam numa história repleta de peripécias românticas e incidentes sobrenaturais.
•A Balada expande a concepção do Lied na forma, âmbito e conteúdo emotivo.
•Importância do piano: que passa de um simples acompanhamento ao papel de apoiar, ilustrar e intensificar o sentido da poesia.
•Franz Peter Schubert (1797-1828); Robert Schumann (1810-1856); Johannes Brahms (1833-1897).
•Schubert: escrita pianística rica, muitas vezes sugerindo uma imagem pictórica do texto, não meramente imitativos, mas no sentido de contribuírem para o clima da canção.
•Schumann: música tipicamente romântica marcada pelo lirismo e pelo colorido harmônico, mas mantendo a serenidade e equilíbrio clássico. Obras de maior vulto: canções de amor (em 1840 casa com Clara Wieck).
•Brahms: Arranjos de muitas canções populares alemãs. Preocupação de não prejudicar a melodia com um acompanhamento complicado ou harmonicamente inadequado. Um dos maneirismos mais recorrentes é a construção de uma linha melódica sobre as notas da tríade ou em torno delas, omitindo, por vezes, a fundamental.

Música Coral
•Distinção entre:
•1- obras para coro como parte de uma estrutura mais vasta (coros de ópera, andamentos corais das sinfonias);
•2- obras onde a escrita coral é o foco de interesse;
–2.1.Partsongs (homofônicas, à cappella, sentimento nacional, interesse pelo folclore);
–2.2. Música litúrgica (para ser usada nos serviços religiosos, movimento ceciliano, interesse pelo passado);
–2.3. Obras corais com solistas e orquestra (sobre textos dramáticos apresentadas em concertos e sem encenação);