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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Dossier SORBONNE N°5: Doutorando e Directeur de Recherche: um namoro à distância


No último seminário que falei, dia 29 de maio, aproveitei para tirar minhas dúvidas sobre as transcrições que venho fazendo da gravação dos Batutas. Desde dezembro tenho percebido que a dinâmica de orientações é bem diferente das que já estava habituado na UFPR. Os professores aqui orientam muuuuita gente! Alguns chegam a orientar ao mesmo tempo 20 mestrandos, mais uns 10 doutorandos, e parece que ainda ganham mal. É uma loucura! Quando cheguei é evidente que não sabia nada disso e assim tentei uma orientação com meu professor. Esperei quase duas horas do lado de fora da sala após a hora marcada para depois finalmente encontrar um ser humano cansando e faminto, um Zé Minhoca com meio quilo em cada pálpebra. Então logo percebi que era cada um por si... Ideia que mudou após o primeiro seminário que falei, dia 19 de dezembro, quando entendi a dinâmica entre os doutorandos e doutores. É no seminário que as orientações acontecem, é lá que os colegas e professores nos ajudam. Mas preciso dizer que só fui delimitar de verdade o meu corpus de tese, um pouco antes deste primeiro seminário, com a ajuda da Profa. Zélia, num fim de tarde congelado de dezembro, num café na Praça da Sorbonne. Hoje concluo que esta relação entre doutorando ou mestrando e seu orientador também é viável, é uma peneira invisível, na medida em que só sobrevive quem é autônomo de verdade e sabe utilizar o conhecimento do orientador da maneira correta. Ou seja, é mais fácil desmontarem a Torre Eiffel do que um orientador da Sorbonne escrever uma linha da dissertação ou da tese. Só vai defender a tese quem entendeu tudo.
Por outro lado, tenho a impressão que neste processo, muita energia é desperdiçada, por exemplo, com alunos que entram no Master 1 sem absolutamente nenhum perfil acadêmico, pois a seleção não é rigorosa como para entrar num mestrado no Brasil. O aluno entra muito cru, com ideias mirabolantes e com muito pouco ou mesmo sem nenhum método, no mesmo nível de um trabalho mediano de final de graduação numa universidade brasileira. Considero um desperdício porque, mesmo que um pouquinho, o orientador vai pensar neste aluno, o aluno vai falar em pelo menos um seminário e aborrecer colegas e doutorandos bisbilhoteiros como eu (como aquela simpática aluna grega que jurou por Zeus que “Eu só danço samba” é um Jazz); porém tudo pode dar em nada e ele não se qualificar para o Master 2.
No Brasil, como as seleções são mais a conta gotas e cada professor aceita somente cerca de 2 ou 3 alunos, é difícil que este aluno não conclua o trabalho. Me parece que na França, atualmente, eles usam o Master 1 mais ou menos como no Brasil e EUA se usa a qualificação. A diferença é que na França o aluno pode fazer um Master 1 sobre um tema e mudá-lo quando entra no Master 2... Fato que também acho um desperdício de esforço porque isso dá margem a dois trabalhos menores em dois anos, enquanto no mestrado brasileiro é um único trabalho, um único tema, em dois anos. No meu ver, mais tempo para produzir algo de relevância e mais coerente para poder dar continuidade numa tese de doutorado. Porém, muitos franceses também aproveitam Master 1 e 2 para explorar um único problema e depois seguem no doutorado como manda o figurino. Como disse antes, quem pegou pegou.
De modo geral entendo que existe esta diferença de postura governamental da educação francesa, onde de verdade quase todos tem uma chance. No Brasil ainda é um acesso muitíssimo restrito.



Leandro Gaertner
Paris, junho de 2010.

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