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sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Sobre o Homo-Vegeta-Ha(ma)bilis‏

O texto "TRANSFIGURAÇÃO - A absorção de um homem por uma árvore" (publicado dia 10 de setembro neste mui exclusivo blog) rendeu bons frutos, sementes, raízes e flores nas mãos de minha querida amiga de Desterro (cidade atualmente conhecida como Florianópolis), uma das artistas mais compleXtas que já tive o prazer de conhecer e conviver, e com o nome mais que perfeito para o conTexto: Flora Holderbaum! (inclusive existe em Joinville (SC) um comércio de plantas com o mesmo nome... fato que torna tudo cada vez mais apropriado!)
Além disso, minha estimada cunhada alemã Sol Flörke, atualmente em um posto avançado da FAB em Passau, completa minha breve introdução e torna ainda mais incrível a rede de associações com a tradução da palavra "Holderbaum": hold=linda/cara/fagueira; baum=árvore. E assim, arrisco uma tradução para este Holderbaum cada vez mais entranhado na terra: Árvorequerida! Nada mal para as Magnolias grandifloras, nada mal para um texto escrito por um Feijão Jardineiro!
Então, finalmente, segue abaixo o comentário desta artista dos sons, das cores, das palavras e das sensações, e que há mais de oito anos soube me guiar pela ilha, sob a escuridão do blecaute, e que continua a compartilhar seus amorosos sensíveis sentidos, influenciando a mim e também as pessoas que me cercam; basta ler os textos recentes da minha frutífera Pereira (metasnalinguagem.wordpress.com)... e que venham mais cafés prolongados em Meia-Praia...


"Caro Homo-vegetalis....


Teu novo texto absorvido em folhas (ou das folhas) inspirou em mim a lembrança esticada de alguns trechos que coloquei no meu TCC (Isto Não É Um título).
Cabe certeirassutadoramente a citação de Otávio Paz, colada mais abaixo. Apresento-te também, se não o conheces, os autores Deuleuze a Gattari, por sinal franceses, pensadores contemporâneos, creio que da vanguarda do pensamento sobre a linguagem.
Tua forma de descrever ou inscrever tuas percepções presente passadas lembrou-me muito um conceito que eles colocam: o Devir.
Também achei muito rica a maneira de escrever causando o desgaste da percepção de quem lê, como que desfiando um fio narrativo (ou a descrição dos substantivos perceptores: "ramificação mais sensível dos limites de minha extensão") para desaparecer o significado que se formará logo a seguir na mente de quem lê, e não tece uma sequência forçosamente literal--linear esmagadora e concentradora de um só significado por alguns caracteres, que assim abertos, tornam-se livres para colarem-se às partes, ou funções, que se -lhes vierem a fazer "devir"...a conectarem-se por extensões rizomáticas.
Enfim....
Te jogo aqui algo densamente e deliciosamente louco sobre o que é escrever o que se sente e vê e vive e pensa e expressa. Se puder, pegue os livros....para mim foi um delíreo lúcido lê-los...Fica a teu cargo (como escrevi horrores) escolher algum trecho pra colocar como comentário no teu blog!

"Para Deleuze e Guattari, um devir consiste "a partir das formas que se tem, do sujeito que se é, dos órgãos que se possui ou das funções que se preenche, extrair partículas, entre as quais instauramos relações de movimento e repouso, de velocidade e lentidão, as mais próximas daquilo que estamos em via de nos tornarmos, e através das quais nos tornamos.", Ou seja, o devir implica num processo de vizinhança, estabelecendo relações rizomáticas com o outro. (DELEUZE, GILLES e GATTARI, FÉLIX - Capitalismo e Esquizofrenia -vol 3, RJ:Ed.34,1996 [Coleção TRANS], p.24.)

"Nenhuma habilidade tipográfica, lexical, ou mesmo sintática será suficiente para fazê-lo ouvir. É preciso fazer o múltiplo, não acrescentando sempre uma dimensão superior, mas, ao contrário, da maneira simples, com força de sobriedade, ao nível das dimensões de que se dispõe, sempre n-1 (é somente assim que uno se faz parte do múltiplo, estando subtraído dele). Subtrair o único da parte a ser construída, escrever a n-1. Um tal sistema poderia ser chamado de rizoma.(DELEUZE e GATTARI, 1995, p.14).

[...escrever sobre escrever é o futuro do escrever sobrescrevo sobrescravo em milumanoites ou uma página em uma noite_que é o mesmo noites e páginas mesma ensimesmam onde o fim é o começo onde escrever sobre o escrever é não escrever sobre não escrever[...]" (CAMPOS, Haroldo de. Galáxias, SP:Editora 34, 2004, 2a ed., s/p.)
As multiplicidade são rizomáticas [...]. Uma multiplicidade não tem sujeito nem objeto, mas somente determinações, grandezas, dimensões que não podem crescer sem que se mude de natureza (as leis de combinação crscem então com a multiplicidade)" (DELEUZE e GATTARI, 1995, p.16).
Um livro não tem objeto nem sujeito; é feito de matérias diferentemente formadas, de datas e velocidade muito diferentes. Desde que se atribui um livro a um sijeito, negligencia-se este trabalho das matérias e a exterioridade de suas correlações.[...]. Num livro, como em qualquer coisa, há linhas de articulação ou segmentaridade, estratos, territorialidade, mas também linhas de fuga, movimentos de deterritorialização, e desestratificação. As velocidades comparadas de escoamento, conforme estas linhas, acarretam fenômenos de retardamento relativo, d eviscosidade ou, ao contrário, de precipitação e de ruptura. Tudo isto, as linhas e as velocidades mensuráveis, constitui um agenciamento. Um livro é um tal agenciamento, e como tal, inatribuível. (Deleuze e Gattari. Mil Platôs - capitalismo e esquizofrenia- vol 1. RJ Ed. 34, 1995,p.11 e 12.)
E por fim, sobre o esquecimento ou o desparecimento das impressões ou sensações limítrofes de partes longínquas da percepção versus a solida realidade aberta e das sensações primevas induvidosas. Ou sobre as ramificações da percepção que desaparecem ao serem detectadas num ponto esticado da máquina que capta o real/irreal envolta e por dentro .Ou sobre o aprisionamento dual realidade/mera fantasia onírica e sua possível dissolução em milhões de anti-definições, estas sim, abertas:
"Não são as sensações, as percepções, as imaginações e os pensamentos que se ascendem e se apagam aqui, agora,[...], não são o outro lado da realidade mas o outro lado da linguagem, o que temos na ponta da língua e se desvanece antes de ser dito; do outro lado que não pode ser nomeado, porque é o contrário do nome: o não-dito não é isto ou aquilo que calamos, também é nem-isto-nem-aquilo: n]ao é a árvores que digo que vejo mas a sensação que sinto ao sentir quea vejo, no momento em que vou dizer que vejo; uma concentração insubstancial, mas real, de vibrações e sons sentidos que ao se combinarem traçam uma configuração de uma presença verde-bronzeada-negra-leitosa-avermelhada-sonora-silenciosa; não, também não é isso, se não é um nome ainda menos será a descrição de um nome nem a descrição de sensação do nome nem o nome da sensação: a árvores não é o nome árvore tampouco é uma sensação de árvore [...] os nomes, já sabemos, estão ocos;[...] sensações que não são percepções não são sensações, percepções que não são nomes, o que são? se não o sabias, agora já o sabes: tudo está oco[...]e, apenas digo tudo-está-oco sinto que caio na armadilha: se tudo está oco, também está oco o tudo-está-oco;não pleno e repleto, tudo-está-oco cheio de si, o que tocamos e vemos e ouvimos e degustamos e sentimos e pensamos, as realidade que inventamos e as que nos tocam, nos vêem, nos ouvem e nos inventam [...]"
[...] e apenas digo, apenas escrevo com todas as suas letras que não é realidade o desnudar de nome, os nomes evaporam, sãoa r, são um som engastado em outro som e em outro e em outro, um murmúrio, uma frágil cascata de significados que se anulam [...]
[...] a resposta é reversível, as frases do fim são o avesso das frases do começo e ambas são as mesmas que são[...] a massa agitada do arvoredo de faias de minha janela enquanto o vento estcétera lições etcétera destruídas etcétera e o próprio tempo etcétera, as frases que escrevo neste papel são as sensações, as percepções, as imaginações, tcétera, que se ascendem e se apagam aqui, diante dos meus olhos, o resíduo verbal: é o que resta destas realidades sentidas, imaginadas, pensadas, percebidas e dissipadas, [...].(PAz, Otávio. O MONOGRAMÁTICO). RJ: guanabara, 1988, p.51-52,53-58).
Não se perguntará nunca o que um livro quer dizer, significado ou significantes, não se buscará nada compreender num livro, pergutarse-á com o que ele funciona, em conexão com o que ele faz passar intensidades, em que multiplicidades ele introduz e metamorfoseia a sua, com que corpos-sem-órgãos ele convergiu o seu" (segundo os autores, 'ninguém, faz amor sem construir para si, sozinho, com outros ou com outros, um corpo sem órgãos. Um corpo sem órgãos não é um corpo vazio desprovido de órgãos, mas corpo sobre o qual o que serve de órgãos [...] se distribui segundo movimentos de multidões,[...], sob forma de multiplicidades moleculares. [...] O corpo sem órgãos não é um corpo morto, mas um corpo vivo, e tão vivo e fervilhante que expulsou o organismo e sua organização')_ (DELEUZE E GATTARI, opus cit., p.43 .)
Tomara que te fervilhe a razão!"
Flora Holderbaum
Desterro, Setembro de 2009
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