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sábado, 28 de abril de 2018

Baculejo na Federal


-Chegamos pai? É aqui a festa? –Sim, é aqui, a festa no Pátio da Reitoria da Federal. Minha pequena Aurora de vermelho e lenço vai de mãos dadas com a mamãe descendo a rua chegando aos altos prédios da universidade. Eu mesmo, flautista,  ex-luno  e professor colaborador estranhei a falta de movimento na quadra da Reitoria em dia de festa, mas foi um pensamento passageiro, externalizado num vago comentário na faixa de pedestres...  Porém quando chego ao evento que iria tocar, no pátio da UFPR, vi aquela praça pública cercada por grades, com homens de preto posicionados estrategicamente. Levamos um susto, os afetos da irritação e abuso vieram numa cavalgada das Valquírias, mas por consideração aos estudantes organizadores do evento aceitamos ser revistados e ter minha mochila cheia de flautas e partituras analisada cuidadosamente por um dos homens de preto.  
No palco meus parceiros musicais já passavam o som há alguns minutos, nos posicionamos dentre a parafernália da amplificação enquanto ainda findava a apresentação de artistas de circo, mágica, malabares e de outras poéticas. Umas das artistas anuncia o final prematuro de seu show acusando censura dos números com fogo e facas e outras. Uma voz ao microfone acusa os Homens de Preto e ela concorda na hora, nossa artista hermana, artistas hermanos de outros países inclusive estavam lá mas foram tolhidos. Nós músicos sentados num palco altinho até vendo tudo aquilo num pátio ao qual estamos habituados, sem grades, cheia de gente. E tinha meia dúzia de gato pingado. A última ação da artista de circo foi convocar para que todos tirassem suas pulseirinhas: sim, colocamos pulseirinha de balada pra acessar o pátio da Reitoria da UFPR. Bolsas com perfumes e sucos suspeitos foram abordadas com gentileza.
A hora já tinha dado, o som tava alinhado, tocamos uma música e meia numa última passagem de som, OK?, fui apresentando o grupo, a semana do choro, choro e chamamé, prontos pra tocar? Não, ainda não é a hora... Tudo bem, todos deixamos o tablado, voltamos a tagarelar sobre o cerco do Pátio, o baculejo, o golpe, tiros no acampamento, o pouco público presente, a censura no show dos artistas e mágicos de circo. O pouco público era explicado pela má impressão causado pelas grades, quedava impressão de um evento privado e pago. Eu mesmo tive essa impressão mas logo mandei estes maus pensamentos para longe.
A hora avançava, o palco já tinha esfriado, estávamos ainda elaborando a situação de levar um baculejo na federal, lembrei dos baculejos pra entrar na Maison de La Recherche nos meses após os atentados do Bataclan... –Ei piá, olha aqui, pode ficar de boa, o baculejo é só pra evitar que entre alguém com arma aqui. – Sério que acham que pode entrar alguém com armas no pátio da Reitoria agora, (isso não seria mais algo tipo duas horas da manhã, num lugar com música ensurdecedora, penumbra, todos bêbados?)... (Cara, não tem gente aqui nesse evento, as pessoas ficaram com medo). Além do mais vale calcular quanto foi gasto com grades, homens de preto e banheiros químicos. – Os banheiros nós mesmos pagamos; disse um até então desconhecido para mim provavelmente da organização do evento. Então eu questionei se chegaram a cogitar uma ajuda de custo aos músicos que ali estavam pacientes esperando, já que houve dinheiro. Por curiosidade. – Mas sem o banheiro o evento não pode ocorrer... –E sem músico o evento pode ocorrer???? Em 30 segundos de conversa soube que esperavam pessoas armadas esse sábado à tarde no pátio da reitoria e que aquele quarteto de banheiros azul no canto do pátio tinha roubado o nosso possível incentivo. Infelizmente perdi a vontade de tocar. Quis logo encontrar as meninas e ir embora. Moral da história: Produção à mercê do Conde Grékula, se você tem um grupo de músicos profissionais prontos pra tocar no palco deixa eles tocarem logo de uma vez.