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terça-feira, 18 de agosto de 2009

R E C I F E

Eita... Sei que Recife merece mil blogs e mil páginas, todos a todo vapor no esforço de captar um centésimo de sua essência... agora distante vejo aquele aglomerado de gente na ponta do continente como uma jóia verde e caudalosa, ardida e morna, acho que um dos lugares mais escancarados do mundo e por isso insondável. Não teria a profundidade necessária para desnudar todas as sutilezas daquela querida terra dos altos coqueiros e dizer quase tudo em três palavras como Aslan Cabral "Quente, Pobre e Feliz", nem resumir tanta amizade como o sorriso do Rico ou tanta musicalidade quanto o bandolim do Beto ou encerrar tanta displicência quanto o garçon do Arriégua, só posso brincar de comparar e com isso eu me divirto.
Nos primeiros cinco minutos no bafão já comecei a brincar disto e não parei mais, mas não demorou muito para entender algumas coisas e assim levar meus meses em Recife, atento e admirado. Vivia à caça de estranhezas e belezas, como toda cidade grande cidade, aquele clarão encalorado de Pernambuco só oferece e mostra e esbanja e vomita e afaga e espeta e quase nada esconde.
Não foram as lindas pontes, nem o cotovelo enferidado do Capibaribe, que mais amei, foi um grupinho de taxistas em volta de um radinho ouvindo frevo na pracinha desgrenhada da Várzea, entre um Brenand e outro, foi o laguinho da federal brilhando arejado e decorado de flores. Aquele tropical absurdo quando saímos de uma sala do Conservatório Pernambucano de Música ou do CAC, ou o vento assanhado rasgando pelas frestas do CFCH, o pequeno jardim do Éden ou das Carícias ou das Formigas ou dos Gatos, o ar fresquinho da Várzea, longe do centro e dos prédios de Casa Forte.
No shopping em Boa Viagem tive que usar o GPS ou me deixar levar pela Cambica até os vapores cafeinados da Casa do Pão de Queijo ou nos perdermos juntos em sonhos distantes na TokStok, depois abraçar aquela luazinha fraquinha de dentro do ônibus, satisfeito.
Macaxeira hoje.... How i met your mother.... onde mais isso poderia coexistir balançando na mesma rede? Vai barracão... vai Brubeck cheio de vinho e veritas, duas mulheres lindas na minha frente, risonhas, uma branca, quase ruiva, e uma morena, quase índia, duas heroínas, lindas e amorosas, corajosas, o melhor já feito em todas as latitudes!
Recife é para lavar a alma, passar calor, tropeçar no lixo, cantar Mozart com toda força, comer camarão, pizza, correr pro Barro-Macaxeira, engarrafar nas calçadas da Boa Vista, desfilar maracatuéreo pelo Recife Antigo, olhar para os lados, tocar flauta em castelos, beiçar a Jureminha, ler e escrever, é a casa de Nossa Senhora do Ó, é lá que parei para poder voar, voar nas ideias e também para outras terras. Recife não deixa nós nos perdermos nos extremos da Finlândia ou do Haiti, ainda bem que Recife existe!


Leandro Gaertner
Tapira, Agosto de 2009.