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quarta-feira, 2 de março de 2011

...e São Pedro anuncia o 4° Rei Mago...

Já fazia um bom tempo que não pensava em escrever sobre Gaspar. Pra mim esta cidade continua lá, minha terra natal, sempre querida, fonte inesgotável de nostalgia pelo jardim e casa de tijolinhos à vista na Coloninha, pelo sítio da vó no Gaspar Mirim, pela corujinha branca que passeia entre a igreja e o coreto, pelo coro e pela banda, pelos parentes e amigos. Uma nostalgia amorosa e profunda, às vezes tocando as raias do desconforto causado pelo afastamento voluntário, com certeza não pior que o afastamento involuntário. Mas, neste texto não irei fazer uma ode ao meu amor por Gaspar ou pelo Vale do Itajaí (Vale que insistem ingenuamente em vender como Europeu), para isto teria que ir muito longe e extrair os cheiros dos paredões verdes ou o som do Rio Itajaí roçando o capim de suas margens. Este empreendimento devo deixar para outro momento. Agora gostaria apenas de tirar um sarrinho de uma figura diminutiva que acabo de conhecer e que parece ser o último assunto do peculiar trânsito gasparense.
De carro em carro, desde a fila que vem de Blumenau que começa a se formar na frente da Lince até o semáforo da Farropa. Desde a fila que começa, na melhor das hipóteses, no Alvorada e que vai impaciente até à faixa de pedestres na frente das escadarias da igreja matriz e que, por sua vez, disputa um lugar com veículos a conta gotas surgindo pela ponte, desde os carros que vão chegando pela rua Brusque e pela avenida Francisco Mastella, carros e caminhões que se encontram no trevinho da entrada de Gaspar e vão fazer fila quase até a lombada eletrônica da Círculo, por todas estas filas e tantas outras cheirando a combustível queimado parece que fala-se à boca pequena de um novo Rei Mago a girar a roda da fortuna de São Pedro. E que apesar de ser de Gaspar, andar pelo Belchior e não ser Baltazar é dado a fazer mágicas dignas das mais mirabolantes metáforas bíblicas, transformando a água em vinho, ou melhor, em cerveja.
Diz-se à boca pequena que este 4° Rei Mago é endinheirado, coisa própria de um rei. Que este 4° Rei Mago é misterioso e cultiva práticas obscuras em seus negócios, coisa própria de um mago. É um rei, e que apesar de servir-se das católicas barbas de São Pedro, do próprio santo padroeiro de Gaspar, não passa ele mesmo de um pequeno diminutivo bem à portuguesa do decaído império romano. Não serei explícito de propósito. Quem circula pelas ruas de Gaspar com carro a gasolina sabe a que diminutivo me refiro. Não posso acusar, não tenho interesse nisto. Mas posso cogitar e cogitar e serpentear e lançar tudo ao ventilador, coisa que o próprio 4° Rei Mago é um mestre.
Diz-se à boca pequena que este Mago foi visitar Belchior, na zelosa tarefa de comprar carvão para o churrasco de São Pedro. Belchior, fiel súdito do padroeiro da cidade, vendeu ao 4° Rei Mago o carvão pelo preço de 8 reais. São Pedro, embriagado e ensurdecido pelos fogos de artifício, álcool e vanerão comprou o mesmo carvão do 4° Rei Mago por 14 reais. De tão contente com mais este bom negócio, o Mago subiu na bancada de madeira no meio da multidão, girou a roda da fortuna e gritou à plebe incauta: “Cerveja de graça!” Até onde se sabe, esta foi somente mais uma mágica deste diminuto, porém astuto Rei Mago, que também anda fazendo estripulia com a matemática financeira, declarando que 4X=X! Faz mágica também com a retórica, declarando-se vítima de assaltos. Deve também engrossar o coro na casa de São Pedro: “Piedaaaade... Piedaaaaaade... Piedaaaaaaaaaaade de nós.” Até escuto a voz do Cid Moreira:
“Ah Mister M...”

Seria um tanto poético os súditos cristãos de São Pedro jogando este diminuto Mago imperador romano aos leões do imposto de renda...




Leandro Gaertner
Itapema, 2 de março de 2011.

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Imagem: "O Apóstolo Pedro chora por ter negado Jesus". Centro spirituale “Le sorgenti” della Comunità Emmanuel a Lecce. Strada provinciale Lecce-Novoli, 23 - 73100 Lecce – Italia. © Cocessão do P. Marko Rupnik, Centro Aletti, Rome.

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