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terça-feira, 16 de novembro de 2010

...uma Flauta cósmica...

Como olhar para uma tese de musicologia depois de tomar conhecimento sobre o que nós já sabemos do Cosmos? Eis a questão...

Antes de pensar em musicologia, fiquei pensando da maneira mais pragmática possível sobre o que é “tocar flauta” aqui, neste lugar que chamamos humildemente de Cosmos. Através de um cilindro oco de origem rochosa, com furos e pequenos engenhos arranjados com cuidado sistemático brincamos com ondas mecânicas de um certo tipo, ondas percebidas assim com exclusividade por nossos organismos devido a um processo de transformações biológicas de milhões de anos. A brincadeira com estas ondas mecânicas, que chamamos “som”, ainda foram se organizando até atingir um estágio de produção de sentidos, uma linguagem, que chamamos de “música”. Poderia ser até bem poético e dizer que a flauta representa o som da Terra, já que é feita de metal e o metal extraído das rochas. Não somente desta Terra, mas também de outras Terras e Martes, qualquer planeta rochoso. Isso seria injustiça com os instrumentos feitos de madeira, além de injusto com os planetas gasosos. Os instrumentos de madeira poderiam ser o som de outros organismos que crescem sobre a Terra, as árvores. Apesar de engraçadinho, departamentalizar deste jeito é inútil. Parece que toda matéria pode pertencer, poderia ter pertencido, poderá pertencer, já pôde ter pertencido, já pertenceu a todos os lugares, em todos os tempos. Toda matéria made in Terra é também made in Cosmos!

Se olhássemos de longe, de outro sistema estelar, de outro planeta ou até, quiçá, pudéssemos ver com os pés fincados a bordo de um planeta intergaláctico, alguém segurando este pedaço de matéria cósmica engenhosamente perfurada, brincando com ondas cósmicas mecânicas, integrando este frágil organismo biológico ao que ele pertence de verdade, estou certo que teríamos uma visão cósmica da felicidade! Um humano tocando uma flauta, ou um violino, um piano, um berimbau, uma ocarina, um pandeiro, assobiando, cantando... é um sinal de uma “consciência de si criadora”. Acredito que isto seja bem-vindo ao Cosmos. Na verdade, acredito que algo que conhecemos como “humanidade” seria para além de um acaso (isto sabemos que é um fato), um produto final do Cosmos, que através de nós é consciente de si. Acredito também que não somos os únicos a tornarem o Cosmos consciente de si e por outros cantos, espalhadas pelo Cosmos, sei que outras flautas também tocam. E neste espaço e tempo de proporções ignotas à nossa condição, que talvez se reconfigure totalmente em ciclos infinitos, como por exemplo um infinito ser vivo que sempre nasce e morre a cada “trilhões de anos” (um dos lados da Teoria do Big Bang), todo gesto criador de um ser consciente de si é uma homenagem ao Universo, como também é uma doce homenagem o solitário polvo que morre lentamente para proteger e salvar seus descendentes.

Tocar um instrumento musical é uma ligação física com o Cosmos, na verdade viver consciente é uma ligação física! Indo um pouco mais longe, tudo é físico! Mas consciência: solidão de nossa espécie! Solidão de nossa espécie? Não podemos desprezar as consciências das outras espécies.

Tocar flauta é fazer música com um pedaço de pedra, de osso ou de madeira polida, de Terra, de Cosmos polido. A flauta é um pedaço do Cosmos humanizado, uma arma também é. Plantar e salvar uma vida biológica, existir, nos conhecermos, estudar, aprender, ensinar, o uso de nossas ferramentas para a busca do conhecimento, a ampliação de nossa consciência: isto homenageia o Cosmos. A arte e a verdadeira ciência são também homenagens. A fé também é um produto de nossa consciência, mas ela deve estar também atualizada com o “agora humano”, com a “franja do espírito do tempo humano”, do contrário ela é negligente e injusta com os que passaram.

Quando penso em uma coisa boa da humanidade penso em alguém tocando um instrumento. Imagino um ser visitante de outros cantos do Cosmos curioso com esta atividade. Acho que ele acharia engraçado. Provavelmente não poderia ouvir como ouvimos, entenderia como inofensivo à sua própria sobrevivência e até, talvez, a imagem de um humano com uma flauta poderia ser para ele a prova de que temos consciência cósmica. Acho também que este ser hipotético entenderia que a flauta é bem-vinda no Universo.

Como adoro ficção-científica, outro dia estava pensando, depois de brincar com uma menina de 3 anos: se ocorresse um evento incrível, como a chegada de uma enorme nave alienígena na Terra e, se essa civilização alien estivesse nos testando, eu não pensaria duas vezes, mandaria uma criança de 3 anos para nos representar. Ah Clarinha! Que olhos brilhantes! Que sinceridade natural, que alegria de estar viva, que curiosidade, que humanidade mais gostosa! Mas, se a lei não permitir uma criança, mande logo a segunda opção, mandem um artista, mandem um cosmopolita.


Leandro Gaertner
Terra, Recife, agora.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que conjunto de idéias deveras interessante...da vontade de pensar...talvez até compreender...
A imagem da Clarinha foi ótima...
Tenho que voltar a olhar para o céu novamente.