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terça-feira, 28 de julho de 2009

! in cannabis duplum veritas !

“Disse também Deus: Eis aí vos dei eu todas as ervas, que dão as sua sementes sobre a terra;..., para vos servirem de sustento a vós”. (Gênesis 1: 29)


Quero que este seja um autêntico texto de blog, então tenho pouquíssimas linhas para falar das minhas impressões sobre a cannabis sativa, uma plantinha, que apesar de tão esclarecedora, estar ela mesma sempre na confusão. Não irei aqui desnudar as tramoiadas históricas que conseguiram transformar este simples verdoláceo, talvez um primo distante do aipim, um dos heróis do Sexto Dia, das velas das grandes navegações, dos vestidos renascentistas e das primeiras folhas impressas em um ícone mefistofélico cucaracha da meliância, no óbvio causador da guerra urbana, no demônio da juventude. Agora só terei tempo para algumas rápidas reflexões, mas que talvez consigam chegar a maconheiros e não-maconheiros do meu alcance.

Não sei porquê, quando penso a maconha na televisão penso no casal que apresenta o Jornal Nacional. Acho que na TV este é o tipo de espaço que ela consegue, uma noticiazinha lida com uma certa eloquência pela apresentadora, geralmente de uma apreensão feita na estrada, de uma carreta com toneladas apreendida na BR-101 em Pernambuco; com aquela carinha de moralista (ergue-se de leve uma das sobrancelhas) na notícia da maconha e uma variação daquela carinha, agora um pouco mais inteligente (cerra-se um pouco os olhos elevando o lábios quase num biquinho) e menos moralista na leitura do mercado financeiro.
Já quando circulo em liberdade pelo bioma internético, me parecem primordialmente coexistirem dois tipos bem distintos de formadores de opinião, e digo formadores de opinião, pois eles são realmente bem lidos e ouvidos. Um grupo é o de intelectuais remunerados para darem suas opiniões em lugares oficiais, como as colunas semanais. Apesar de invejar um pouco sua fama, não poderia invejar o seu cinto de castidade. Do outro lado, existe o grupo dos que escrevem sem os apertos e desconfortos do cinto, porém são semi-analfabetos, geralmente no Orkut, que não conseguem escrever mais de duas frases sem usar “Tá ligado?” “Fmz é nóis qui solta a fumassa pru alto!” A essência da maconha não é explorada por nenhum destes grupos.
Para delimitar minhas considerações, preciso falar da essência da minha maconha. Apesar de não ser um dos mais indicados para esta função, por não ser assim um fumador tão regular e experiente, posso afirmar até com um tom de felicidade que desde meu primeiro pega, há uns 10 anos, tenho a mesma boa impressão. A essência dos efeitos desta plantae é boa e não destrutiva. Recomendo um encontro com a cannabis tanto quanto recomendo um banho de mar.
Apesar de ser essencialmente boa, tenho que admitir que fico um pouco cansado quando fumo. Não é fácil ter tantas janelas abertas na mente e tantas ideias desnudadas. Parece que algumas áreas restritas do inconsciente são temporariamente abertas à visitação e o encadeamento de raciocínio tem o seu percurso ampliado em algumas etapas, como se o muro inexorável da desconcentração e efemeridade demorasse mais para aparecer. Com certeza podemos nos embrenhar mais na mata fechada de uma ideia complexa, achar vários caminhos, clareiras e soluções mais razoáveis.
Pouco se fala dos efeitos intelectuais da cannabis, deste atalho para pensamentos superiores e alargados. Poderia até dizer que ela facilita um pensamento reflexivo de terceira ordem, Pensar como se Pensa o Pensamento, o Pensar³. De repente a fila destes Pensares podem ir ainda mais longe, talvez inferir sobre nosso próprio futuro se pensarmos que somos puro potencial. Mas é verdade que este atalho não é assim tão fácil de ser encontrado, ele requer um esforço. Pode acontecer de fumar um pouco e não sentir nada de especial, mas nestes casos recomendo a versão brigadeiro. Sim senhor! Comer chocolate é melhor que inspirar fumaça...
No meu caso, não estou sempre disposto a este esforço de pensamentos ao cubo, não diria que esta disposição é diária e nem mesmo semanal. Porém, uma vez que aprendemos a acessar certos atalhos do pensamento, podemos voltar a eles pela memória. A maconha nesta perspectiva passaria a ser uma “conselheira”, bem aos moldes dos ritos antigos, usadas em momentos escolhidos e especiais, sozinho ou em grupo, para ouvir música ou para conversar, para observar as coisas ou fechar os olhos, ou ainda tudo isto ao mesmo tempo. Eu me interesso por este olhar, um tanto conservador eu sei, mas não moralista, da maconha. Mas este sou eu com a maconha, ainda mais introspectivo e tentando aguçar a tosquice dos meus sentidos. Assim posso dizer que amo esta plantinha!


Para quem não gosta ou não pode fumar, segue a seguinte receita:


Brigadeiro de Maconha ou Choconabis

Ingredientes:* 5 g de maconha (solta ou prensada);
* 5 colheres de manteiga;
* 1 lata de leite condensado;
* Achocolatado a gosto;

Procedimento:Siga os mesmos passos do preparo do brigadeiro normal. Porém, coloque a maconha junto com a manteiga em derretimento e deixe que ela frite um pouco para liberar o THC, mas retire do fogo antes de queimar. Depois peneire a manteiga, pois você não vai querer um brigadeiro com pedacinhos de mato. Coloque esta manteiga chapada na panela com o leite condensado e o achocolatado de sua preferência.

Efeitos:
Não exagere na dose (mais de três colheradas) se você tiver compromisso nas próximas 5 horas.



Leandro GaertnerGaspar, Julho de 2009.
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3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Leandro

Realmente a sua receita Choconabis deve ser muito especial, mas eu recomendo cuidado na dose da cannabis. Certa feita comi quatro em vez de um pedaço apenas de um bolo cannabiniano e quase foi para o espaço, uma viagem que se revelou muito perigosa para a minha saúde de então.
Seu texto é magnífico

abs

Virson Holderbaum(pai da Flora)

Anônimo disse...

Professor, não sabia desse tão refinado gosto culinário que o senhor possui. Imaginava mas, não punha a mão no fogo (colocava a ponta antes da aula, era bom estudar flauta). Pensando hoje acho até que já me deu alguma aula chapado, será? Teria sido uma honra.
Abraços, felizes viagens!

Leandro disse...

Oi André, ahaha, só pra responder tua questão...ainda não dei aula chapado....ainda....ahahah....e nem tinha pensado nisso, parece uma boa ideia!

grande abraço