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domingo, 7 de setembro de 2008

VALE DO ITAJAÍ X VALE EUROPEU


O Vale do Itajaí é uma região com ótima qualidade de vida, comparando com o restante do Brasil e é quase unânime dizer que aqui se vive bem apesar de, é claro, termos nossas falhas e deficiências. Temos vários transtornos crônicos causados pela defasagem nas opções de transporte, por exemplo, temos também problemas sociais e tantas outras dificuldades encontradas em todos outros lugares.
Basta olharmos com atenção para notar que moramos em cidades de pequeno e médio porte, cercadas de morros e mato, perto de ótimas praias, são cidades até razoavelmente organizadas e limpas, cheias de belíssimos recantos naturais. Ao andarmos pelas ruas vemos sempre uma citação dos nossos antepassados que aqui chegaram com sua acolhedora arquitetura. Como nossas cidades estão bem próximas, não existindo um grande espaço vazio entre elas, numa média de 15 a 20 kilômetros de distância entre cada uma, seus habitantes acabam se integrando, tanto profissionalmente, culturalmente ou recreativamente. Somos alimentados pelo caudaloso e barrento Itajaí-Açú e pela mata de maior biodiversidade do planeta, a Mata Atlântica, que recentemente ganhou um parque nacional de preservação, fruto da longa e heróica luta de pesquisadores e professores de nossas escolas e universidades.
Vivemos em cidades interioranas e bem longe da alucinante rapidez e quase infinitas opções de uma grande metrópole. Porém, mesmo não tendo esse ar de grande capital, temos aqui instituições tradicionais e sólidas que favorecem a circulação de pessoas e sua formação, propiciando uma comunidade/ambiente cosmopolita. Uma dessas instituições é a própria identidade que vêm ganhando contornos mais definidos nas últimas gerações, a identidade do habitante nativo do Vale, sua herança européia, africana, ameríndia ou asiática, diluída, integrada e expandida nesses ares úmidos, espalhada pelas brumas que saem das pirambeiras verdes todas as manhãs.
Chamarmos nosso Vale do Itajahy de Vale Europeu é negar tudo isso! É negar a realidade, as belezas e as feiúras, todas as dificuldades AQUI enfrentadas por nossos antepassados, nossa identidade calcada no trabalho e nossa sofisticada interpessoalidade. É também não estar ciente que a Europa, por exemplo, não aboliu os trens nos anos 60, pelo contrário soube manter e aprimorar as malhas ferroviárias intermunicipais, inter-regionais, nacionais e internacionais. Lá os rios não são esgotos desde a primeira metade do século XX (além disso, são usados como meio de transporte), não tem favelas na periferia e na administração dos recursos públicos têm menos lugares para diletantes.
Aqui, justifica-se a alcunha Vale Europeu como sendo um chamariz turístico! Isto é um ótimo exemplo de diletantismo. No Brasil, o Vale do Itajay já tem força suficiente e sustenta-se, como disse anteriormente, com suas instituições: temos universidades, teatros, tecnologia, grandes empresas, comércio especializado, festas de grande porte organizadas e seguras, boa qualidade de vida e identidade. Agora façamos propaganda disso tudo dentro da nossa exuberante paisagem e clima subtropical. Vamos dar um bom exemplo de turismo regional: alguém já ouviu falar em Alpes Gaúchos? Acho que não... Acredito que nossos vizinhos do sul estão bem contentes com a performance turística da sua Serra.
Essa ingênua e provinciana metáfora de Vale Europeu nunca vai atrair os turistas endinheirados da Europa, América do Norte e até mesmo os bons turistas brasileiros, que não são bobos e vão eles mesmos conhecer um vale europeu de verdade, com seus castelos, trens bala e muito frio. Os turistas não querem saber de pessoas disfarçadas e orgulhosas por uma ilusão fantástica, assim já basta a Coréia do Norte.


Imagem: Foto do Rio Itajaí e Morro do Baú (Gilberto Harbe)

Leandro Gaertner - Escrito em Gaspar, dia 05/06/05

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Lê!! Relendo este texto o vejo cada vez mais claro e lúcido. O que estão fazendo com nosso querido vale? Até a natureza já se revoltou contra a idéia de Vale Europeu... escangalhou um monte...aliaz, vários montes. E, pelo andar da carruagem, os diletante conseguirão escangalhar o que sobrou.
Parabéns por este texto maravilhoso.Celine

um boi qlqr disse...

Bem colocado, mas vai tentar explicar isso pra pseudo-alemãozada...